Folha de S. Paulo


Lobista preso já fez acusações contra o PMDB e campanha de Dilma

Preso nesta segunda-feira (21) na Operação Lava Jato, o lobista João Augusto Rezende Henriques afirmou em 2013 que intermediava propina para o PMDB em contratos da Petrobras e que houve pagamentos também para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.

Henriques já é réu em ação penal da Lava Jato sobre a compra de um navio-sonda em que o alvo principal é o ex-diretor da Área Internacional Jorge Zelada, acusado de receber propina.

Em entrevista à revista "Época", em agosto de 2013, Henriques afirmou que uma parte dos contratos na área Internacional era destinada principalmente à bancada mineira do PMDB na Câmara, que tinha indicado Zelada ao cargo.

"Do que eu ganhasse, eu tinha que dar para o partido", disse à revista, se referindo ao PMDB. Ele afirmou ainda que "não havia um percentual fixo" nos repasses e que os políticos "estão sempre em campanha", cobrando dinheiro.

Entre os mencionados, estava o então ministro da Agricultura, Antonio Andrade, hoje vice-governador. De acordo com a reportagem, Henriques afirmou que se aproximou do PMDB por influência do hoje vice-presidente Michel Temer, ainda nos anos 1990.

A entrevista foi anexada pelo Ministério Público Federal à denúncia sobre o caso de Zelada e é usada como prova no processo.

Em outro trecho, ele dizia que o ex-tesoureiro João Vaccari Neto articulou o pagamento de US$ 8 milhões da Odebrecht para a campanha da primeira eleição de Dilma.

Ao depor formalmente ao Ministério Público Federal, Henriques, porém, mudou sua versão. Disse aos investigadores que apenas presta consultoria na área de óleo e gás e que as declarações para a revista eram uma ironia. Ele também negou ter pago propina a Zelada e envolvimento na contratação do navio-sonda.

De acordo com a acusação do Ministério Público Federal, o lobista atuava como um "preposto" de Zelada e representava os interesses do PMDB no recebimento de propina. A denúncia, no entanto, não detalha quais políticos teriam recebido os pagamentos.

A ação penal aborda o suposto pagamento de propina na contratação de um navio-sonda pela Petrobras em 2009 por US$ 1,8 bilhão. A peça afirma que Zelada recebeu propina paga por um representante de uma empresa chinesa e intermediada por Henriques e por Raul Schmidt Felippe Junior.

A denúncia afirmava que o PMDB recebeu pagamentos por meio de um contrato de US$ 15,5 milhões envolvendo uma off-shore indicada por Henriques. O partido negou as acusações e afirma que nunca autorizou ninguém a discutir recebimento de vantagens em seu nome.

A defesa de Henriques disse à Justiça Federal que a denúncia do Ministério Público Federal "em momento algum" mostra como chegou às conclusões e pediu a absolvição sumária.


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