Folha de S. Paulo


Delegado da Polícia Federal pede que Lula seja ouvido na Lava Jato

Paulo Campos - 24.fev.15/Folhapress
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante ato com sindicalistas em defesa da Petrobras
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante ato com sindicalistas em defesa da Petrobras

Em relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira (10), o delegado da Polícia Federal Josélio Azevedo de Sousa solicitou que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva seja ouvido em inquérito no STF que trata de parlamentares com foro privilegiado como desdobramento da Operação Lava Jato.

A informação foi divulgada nesta sexta-feira (11) pela revista "Época" e confirmada pela Folha.

O pedido ainda será analisado pela Procuradoria-Geral da República. Pelas regras em vigor no STF, os pedidos da PF só são avaliados pelo ministro relator dos casos da Lava Jato, Teori Zavascki, depois de uma manifestação formal do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Se Janot for contrário à ideia de ouvir Lula, o ministro do STF não irá ouvi-lo.

Em seu relatório, o delegado reconhece que não há provas do envolvimento direto de Lula, porém considera que a investigação "não pode se furtar à luz da apuração dos fatos" se o ex-presidente foi ou não beneficiado "pelo esquema em curso na Petrobras", "obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal".

Ao citar eventuais indícios sobre o papel de Lula no esquema da Petrobras, o delegado reconheceu que o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa apenas "presumem que o ex-presidente da República tivesse conhecimento do esquema de corrupção", tendo em vista "as características e a dimensão do mesmo".

O delegado frisou que "os colaboradores, porém, não dispõem de elementos concretos que impliquem a participação direta do então presidente Lula nos fatos".

Costa afirmou, segundo o termo de depoimento, que "em razão da envergadura do esquema de corrupção montado na Petrobras, acha muito pouco provável que tanto o ex-presidente Lula quanto Dilma Rousseff não tivessem conhecimento do mesmo".

Um pouco antes, porém, no mesmo depoimento, Costa reconheceu que "jamais tratou" com Lula ou com Dilma "acerca de vantagens indevidas decorrentes de contratos da Petrobras".

Em seus depoimentos, o doleiro Youssef também não ofereceu provas mais objetivas sobre o suposto papel de Lula no escândalo da Petrobras. Ele disse que "tanto a presidência da Petrobras quanto o Palácio do Planalto tinham conhecimento da estrutura que envolvia a distribuição e repasse de comissões no âmbito da estatal".

A PF quis saber quem era o "Palácio do Planalto", e Youssef citou Luiz Inácio Lula da Silva, a atual presidente Dilma e os ex-ministros Gilberto Carvalho, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, Antonio Palocci, José Dirceu e Edison Lobão.

O doleiro disse ainda que sua convicção decorria "do tempo em que Paulo Roberto Costa ficou na diretoria de abastecimento e do conhecimento de vários integrantes do partido, tanto do PP quanto do PT e do PMDB sobre o assunto".

Porém, logo em seguida no mesmo depoimento, Youssef reconheceu "não dispor de nenhum elemento concreto que permita confirmar tal suposição".

A investigação que tramita no STF não tem qualquer relação com outro procedimento aberto no Ministério Público do Distrito Federal que trata de averiguar a suposta participação de Lula na concessão de empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para a Odebrecht, uma das empresas que, segundo as investigações da Lava Jato, integraram cartel na Petrobras.

Além de Lula, o delegado quer que sejam ouvidos os políticos do PT Rui Falcão, presidente do partido, José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli, ambos ex-presidentes da Petrobras, José Filippi Jr., ex-tesoureiro das campanhas de Lula e Dilma Rousseff, e os ex-ministros Ideli Salvatti, Gilberto Carvalho e José Dirceu.

O delegado também pediu que sejam ouvidos políticos do PMDB e do PP, como os ex-ministros Francisco Dornelles e Mario Negromonte.

OUTRO LADO

Em visita a Buenos Aires, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não foi informado do pedido feito pela Polícia Federal para que seja ouvido no inquérito que apura o esquema de corrupção na Petrobras.

"Não sei como comunicaram a você e não me comunicaram. É uma pena", disse Lula, ao ser questionado.

O ex-presidente não quis fazer outros comentários sobre a informação, revelada pela revista "Época".

Lula participa de uma reunião com trabalhadores do Sindicato dos Porteiros, na Umet (Universidade Metropolitana de Educação para os Trabalhadores), no Centro de Buenos Aires.


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