Folha de S. Paulo


CPI do BNDES não convocará JBS; Eike e sobrinho de Lula serão chamados

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Luis Macedo/Câmara dos Deputados Reunião Deliberativa da CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados
Reunião deliberativa da CPI do BNDES nesta quarta-feira (9) na Câmara dos Deputados

Num momento de consenso entre deputados do PT e do PMDB, que vêm tendo seguidos atritos na Câmara, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES derrubou a convocação dos donos do maior grupo frigorífico do país, o JBS.

Por outro lado, os deputados aprovaram a convocação do empresário Eike Batista, do grupo EBX, do ex-executivo da Camargo Correa Dalton Avancini, investigado na Lava Jato, e de Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Lula.

Os requerimentos para convocar os empresários Wesley e Joesley Batista, da JBS, geraram discussão entre os deputados nesta quarta (9), e a votação teve de ser nominal. A convocação foi derrubada por 15 votos a 9. A JBS é uma das maiores empresas doadoras de campanha e uma das principais beneficiárias de empréstimos do banco estatal nos últimos anos.

Na semana passada, os deputados já haviam tentado votar os requerimentos para ouvir os donos do frigorífico, mas, após conversas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), as convocações foram retiradas da pauta.

Foram contrários às convocações os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), André Moura (PSC-SE), Carlos Zarattini (PT-SP), Covatti Filho (PP-RS), Davidson Magalhães (PC do B-BA), Delegado Edson Moreira (PTN-MG), Diego Andrade (PSD-MG), Edio Lopes (PMDB-RR), Fábio Reis (PMDB-SE), Marcelo Squassoni (PRB-SP), Daniel Vilela (PMDB-GO), Mauro Pereira (PMDB-RS), Paulão (PT-AL), Paulo Magalhães (PSD-BA) e Reginaldo Lopes (PT-MG). A oposição votou a favor das convocações.

"Não há julgamento em ouvir essas pessoas [sócios da JBS]. Precisamos ter a clareza de como se deu a relação entre elas e o BNDES", criticou Betinho Gomes (PSDB-PE). Para ele, houve "blindagem".

SOBRINHO DE LULA E EIKE BATISTA

Logo em seguida, em meio a muita discussão, os membros da CPI aprovaram a convocação de Taiguara Rodrigues dos Santos, suspeito, segundo eles, de tráfico de influência no BNDES e de ter integrado a comitiva de Lula em viagens à África e a Cuba, onde o banco estatal financiou obras de infraestrutura.

O sobrinho de Lula foi convocado após uma manobra dos deputados, que inverteram a ordem da pauta. Como a votação dos empresários da JBS havia sido nominal, para checagem de quórum, a votação seguinte não pôde seguir o mesmo rito em menos de uma hora, conforme determina o regimento.

"É um absurdo a convocação do Taiguara, que tem um parentesco distante com o [ex] presidente Lula e não tem nenhuma relação a ver com o BNDES. É uma mera provocação que foi feita aqui. O Lula foi trocentas vezes para Cuba, pode ter ocorrido de ele [Taiguara] ter ido, mas não é uma pessoa do círculo do presidente Lula", disse Carlos Zarattini (PT-SP).

A aprovação da convocação de Eike Batista também ocorreu sob críticas do deputado petista, que alegou que a empresa OGX (de petróleo), responsável pela ruína do grupo, não recebeu investimentos do BNDES. Os governistas, porém, foram voto vencido.

Como contrapartida, Zarattini conseguiu aprovar requerimentos para investigar contratos das obras do Metrô de São Paulo, sob gestão do PSDB. Parte das obras, segundo o deputado, são tocadas por empreiteiras envolvidas na Lava Jato com recursos do BNDES.

Para auxiliar a CPI na análise dos documentos enviados pelo banco, o presidente da CPI, Marcos Rotta (PMDB-AM), afirmou que a Câmara deve contratar os serviços da FGV (Fundação Getulio Vargas). Segundo Rotta, os papéis requisitados já somam milhões de páginas.


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