Folha de S. Paulo


Temos que evitar remédios amargos, diz Temer após reunião com Dilma

Pedro Ladeira - 19.ago.2015/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 19-08-2015, 20h00: A Presidente Dilma Rousseff, acompanhada do vice Michel Temer, recebe a chanceler alemã Angela Merkel, que inicia visita oficial ao Brasil, no Palácio da Alvorada. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer em recepção da chanceler alemã, Angela Merkel

Minutos antes de sair de seu gabinete para receber líderes do PMDB no Palácio do Jaburu, o vice-presidente Michel Temer foi surpreendido por um chamado de Dilma Rousseff, que pediu uma conversa rápida com o aliado. Os dois conversaram pessoalmente por vinte minutos e o vice defendeu o corte de despesas como principal solução para o deficit orçamentário do governo, mas não descartou o aumento de tributos.

"Aumento de tributo só em última hipótese, descartável desde já", disse Temer após o encontro com a presidente. "Não queremos isso [aumentar impostos]. Temos que evitar remédios amargos", completou o vice usando a mesma expressão da presidente em seu pronunciamento para celebrar o Sete de Setembro.

No entanto, em reunião nesta terça-feira (8) com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), além de seis dos sete governadores do PMDB, Temer irá propor o aumento da Cide (tributo cobrado sobre a venda de combustíveis) sobre gasolina para gerar recursos para os cofres da União e dos Estados.

A proposta, feita a partir de sugestão do ex-ministro Delfim Netto, pode gerar uma receita adicional de R$ 14 bilhões, sendo R$ 11 bilhões para o governo federal e R$ 3 bilhões para Estados e municípios. A expectativa do vice é encontrar formas de eliminar o deficit primário de R$ 30,5 bilhões previsto no Orçamento de 2016 enviado pelo governo ao Congresso.

EM CIMA DA HORA

Dilma acionou Temer de surpresa por duas vezes nesta terça. Além da reunião particular, a presidente pediu, por intermédio do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), para que o vice reunisse líderes da Câmara para discutir a pauta na Casa, que preocupa o governo.

A tentativa era negociar o adiamento da votação de um projeto de lei que regulamenta o seguro desemprego, alterando uma medida provisória do ajuste fiscal que traria uma oneração de R$ 818 milhões aos cofres públicos. Além disso, Dilma quer aprovar urgência de um projeto de lei de reajuste alternativo aos servidores do Judiciário e inibir assim a derrubada do veto presidencial à proposta de aumento de até 76% aos servidores.

O vice, que pediu afastamento da articulação política do governo, disse que negociaria com o Congresso "a macropolítica" sempre que fosse solicitado. E assim o fez.

Ao fazer os chamados a Temer, Dilma seguiu o conselho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu núcleo político para se reaproximar do aliado e repactuar a relação do governo com o PMDB.

A avaliação no Planalto é que sem o partido e o apoio do vice, a presidente entrará no pior cenário de isolamento político, o que deixará sua governabilidade "praticamente inviável".

Depois do encontro com os presidentes do Legislativo e governadores peemedebistas, Temer fará, nesta quarta-feira (9), reunião com cerca de cem dirigentes sindicais filiados à CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), entidade ligada ao PMDB.

O Planalto acredita que é preciso investir no diálogo com peemedebistas mais simpáticos ao governo, isolando Cunha e os ex-ministros Moreira Franco e Geddel Vieira Lima, que pressionam Temer pelo desembarque oficial do PMDB do governo.

Segundo a Folha apurou, porém, não há nenhuma decisão fechada nesse sentido e, durante o jantar desta terça com governadores, Temer vai adotar um discurso conciliador para "resolver os problemas do governo", propondo saídas para o rombo fiscal de R$ 30,5 bilhões previsto para o ano que vem.


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