Folha de S. Paulo


Livro explica por que Lula resistiu em 2005 e Collor caiu em 1992

Jamil Bittar - 1º.jan.07/Reuters
ORG XMIT: 050401_1.tif Posse do Segundo Mandato de Luiz Inácio Lula da Silva: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobe a rampa do Palácio do Planalto para tomar posse do seu segundo mandato, em Brasília (DF). Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva walks up the ramp to Planalto Palace after he was sworn in for a second term of office in Brasilia January 1, 2007. REUTERS/Jamil Bittar (BRAZIL)
O ex-presidente Lula no dia da posse do seu segundo mandato, em 2007

Por que as denúncias de corrupção em 1992 levaram ao impeachment de Fernando Collor, enquanto a crise do mensalão em 2005 resultou na reeleição de Lula? Essa pergunta é o eixo do livro "Crises Políticas e Capitalismo Neoliberal no Brasil", de Danilo Enrico Martuscelli.

Doutor em ciência política pela Unicamp, Martuscelli diz que "a corrupção é um traço estrutural" do Estado –por isso o impacto das acusações sobre a estabilidade política depende de outros fatores.

Na crise de 1992, é notório que Collor não aceitava dividir o poder: não cedia ministérios aos partidos nem entregava cargos de confiança a indicados por aliados. Para aprovar medidas no Congresso, negociava votos caso a caso, o que deixou seu governo vulnerável a chantagens.

No plano social, a insatisfação com os efeitos recessivos de sua política econômica levou a classe média às ruas, mas a condução do processo de impeachment coube ao PMDB, sensível aos interesses do empresariado.

EMPRESARIADO

A crise de 2005 teve desfecho diferente. No poder, Lula manteve a política econômica de FHC e reformou a Previdência, mas procurou também atender aos demais segmentos do empresariado.

Para apaziguar as resistências do PT, cedeu ao partido 60% dos ministérios, o que terminou fragilizando sua base no Congresso.

Esse problema se agravou porque o tripé macroeconômico –que priorizava o superavit primário– limitava a liberação de verbas às emendas parlamentares: enquanto FHC executou 64% das emendas em 1997, Lula executou só 18,5% em 2003.

A divisão desproporcional dos ministérios e a baixa execução das emendas afastaram o Legislativo do Executivo. Alguns partidos romperam com o governo e, no início de 2005, o candidato do Planalto perdeu a eleição à presidência da Câmara para Severino Cavalcanti (PP), que de início foi hostil a Lula.

Em junho, as acusações de Roberto Jefferson derrubaram o ministro José Dirceu. Enfraquecido, Lula cedeu ministérios ao PMDB e ao PP. Mas a oposição não pediu impeachment nem houve grandes manifestações de rua.

Martuscelli atribui isso ao empresariado –os líderes da Fiesp, da CNI e da Febraban queriam manter a governabilidade e uma solução rápida para o impasse político, o que inibiu o PSDB.

Finda a crise, Lula recebeu doações de R$ 75 milhões das grandes companhias e conseguiu a reeleição com 61% dos votos.

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CRISES POLÍTICAS E CAPITALISMO NEOLIBERAL NO BRASIL

Autor Danilo Enrico Martuscelli

Editora CRV

Quanto R$ 59,90 (290 págs.)

Avaliação muito bom


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