Folha de S. Paulo


Professores do RS decidem continuar em greve e fazem protesto

Paula Sperb/Folhapress
A professora Luana Rodrigues dos Santos durante protesto em frente à sede do governo gaúcho

Após decidirem pela continuação da greve iniciada na segunda-feira (31), professores da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul fizeram um protesto na tarde desta quinta (3) contra o governador José Ivo Sartori (PMDB), em frente à sede do governo gaúcho, em Porto Alegre.

Segundo a Brigada Militar (a PM gaúcha), cerca de 1.500 pessoas participaram da manifestação, incluindo alunos da rede estadual.

Os funcionários públicos do Executivo receberam apenas R$ 600 do salário de agosto –o restante será parcelado até o final de setembro. Funcionários do Legislativo e do Judiciário receberam o valor integral.

Além de reivindicar o restante do pagamento, os professores pedem a derrubada do projeto de lei 206, de autoria do governo, que congela salários e proíbe novas contratações. Durante a manhã, os servidores participaram de audiências públicas na Assembleia que discutiram o projeto. Os sindicatos pressionam os deputados para que não aprovem as medidas.

No protesto, os professores gritavam "Retirada já" e cantavam "Ô, deputado, presta atenção. Teu voto agora tem resposta na eleição".

"Exigimos retratação do deputado que nos chamou de vadios, disse uma mulher ao microfone, em referência a declaração do líder de Sartori na Assembleia, deputado Álvaro Boessio, durante uma entrevista concedida na segunda-feira.

A professora estadual Luana Rodrigues dos Santos, 29, segurava uma panela vazia e um cartaz com os dizeres "Cadê a comida que estava aqui?". Luana, que leciona geografia, conta que deixou um emprego da iniciativa privada no início do ano para se dedicar ao Estado. "Foi decepcionante", diz ela, afirmando que precisa comprar remédios para o sogro doente e pagar a creche e o transporte do filho de cinco anos.

"Me questiono que tipo de professor foi o Sartori. Tenho minhas dúvidas. Um professor que não prioriza a educação?", diz Luana. Antes de entrar na carreira política, Sartori foi professor de Filosofia em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Ele foi prefeito da cidade em duas gestões antes de ser eleito governador.

"Se fossem os três poderes com salários parcelados, a população entenderia. Sartori parcelou o salário dos que ganham menos", disse a professora de história Olga Boelter, 53.

"Meu sonho era poder pagar um ônibus para os meus alunos participarem de uma audiência na Assembleia para eles aprenderem cidadania. Mas não tem verba para nada", diz a professora Claudia Tozzi, 51.

GREVE PRORROGADA

Segundo o Cpers (Sindicato dos professores do RS), a categoria decidiu na noite de quarta (2) que permanecerá em greve geral até o dia 11 de setembro, data anunciada para o pagamento da segunda parcela do salário de agosto, no valor de R$ 800.

O sindicato dos policias civis (Urgeim) informou que a categoria continuará de braços cruzados até sexta (4), atendendo apenas casos urgentes. No fim de semana e na segunda-feira (7), farão operação-padrão, que restringe o atendimento. Na terça (8), os policiais civis decidirão com as outras categorias se voltarão a fazer greve geral.

FALTA DE SEGURANÇA

Pelo terceiro dia seguido, os policias militares estão bloqueados por seus familiares e sindicalistas dentro dos batalhões. Eles são proibidos de fazer greve, por isso as mulheres dos soldados impedem que saiam para trabalhar. A categoria não decidiu se continuará "aquartelada".

"As esposas estão muito revoltadas, o sentimento é de injustiça. Elas decidirão até quando farão o bloqueio", diz Leonel Lucas, presidente da Abamf (Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar).

Nesta quinta, cinco pessoas foram mortas em um intervalo de três horas em Porto Alegre

Ronaldo Lima, 18, morreu após levar um tiro de um policial militar, por volta das 7h, no Morro Santa Tereza. Moradores do bairro se revoltaram contra a BM e atiraram pedras contra policias e atearam fogo no lixo. No mesmo bairro, dois ônibus e uma lotação foram queimados horas depois por homens encapuzados.

Um homem que caminhava em uma rua isolada pela BM, no mesmo bairro, foi agredido com socos e chutes. As imagens foram registradas por uma rede local de televisão. O tenente-coronel Mario Ikeda, comandante do Policiamento da Capital (CPC), diz que a agressão "será apurada pelo mesmo procedimento investigativo" dos crimes relacionados.

O comando da Brigada Militar diz que o policiamento está normal.


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