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Evidente que a casa não está em ordem, diz ministro Levy, da Fazenda

Alan Marques/Folhapress
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o governo precisa "botar a casa em ordem" para conseguir reverter o atual cenário de crise na economia. A declaração foi dada um dia após entregar ao Senado a previsão de Orçamento de 2016 com deficit inédito de R$ 30,5 bilhões, medida anunciada com visível desconforto do ministro.

"Há um desafio para todo mundo. Para a sociedade, para o governo, e também para o Congresso, para botar a casa em ordem. Evidente que ela não está em ordem, e a gente precisa crescer e ter a confiança para não ver o dólar disparar", afirmou Levy nesta terça-feira (1), em audiência na Câmara dos Deputados.

Ao citar que o ambiente favorável dos últimos anos na economia brasileira chegou ao fim, Levy disse que cenários piores são reveladores de problemas maiores. "Como diz um ditado americano, quando a maré é baixa é que você descobre quem está de calção e quem está sem calção", disse.

"É uma realidade, nós vinhamos de um período de expansão e a maré mudou. A ficha tem que cair, temos que entender isso", afirmou Levy, que acredita que ações rápidas devem ser tomadas. "Estamos enfrentando um cenário diferente. Deixamos o toldo aberto e começou a chover. Temos que correr para consertar o telhado antes que a chuva aperte", afirmou.

O ministro da Fazenda disse que o momento requer maturidade na busca de soluções, visando a retomada da rota do crescimento. "Isso vai certamente exigir sacrifício do próprio governo. Teremos que estar atento às despesas, saber eleger quais são dispensáveis e repensar modos de oferecer serviços ao cidadão", disse.

Levy cobrou seriedade de todos para encarar a crise econômica e comparou o atual momento com o que foi atravessado pelo Brasil na década de 1980, com queda nos preços das commodities. "A diferença é que agora temos US$ 370 bilhões em reservas internacionais, naquela época tínhamos dívida externa de US 100 bilhões", comparou.

Para superar o momento, o governo precisa definir uma estratégia de médio prazo, com menos gastos e maior controle fiscal, na avaliação de Levy. "O orçamento não deve ser interpretado como uma receita para viver em déficit", disse. "Se a gente não quer mais impostos, a gente tem que prestar atenção para não ter mais despesas".

ESTADOS

Levy também descartou a possibilidade de desbloquear as contas do Rio Grande do Sul. O bloqueio foi feito hoje pela União, após novo atraso do pagamento mensal da dívida. "Não há acerto. Há o cumprimento da lei". disse o ministro.

A resposta foi o momento mais tenso da audiência, e foi dada após Levy ser questionado, em tom mais elevado, pelo deputado Giovani Cherini (PDT-RS), sobre a possibilidade de suspender o bloqueio, uma vez que o Estado teria receitas a receber que não são reconhecidas pelo ministério.

Deputados da bancada do Rio Grande do Sul foram os que mais realizaram questionamentos ao ministro Levy, que apresentou dados mostrando a expansão da dívida estadual ao longo dos últimos anos.

Durante as perguntas e considerações dos parlamentares, o deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS) fez uma dura crítica ao ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ao chamá-lo de "assassino de contas públicas" e culpando Genro pelo atual estado das finanças daquele estado.

VETOS PRESIDENCIAIS

Está prevista para amanhã, às 11h30, uma sessão conjunta do Congresso Nacional que deve avaliar vetos presidenciais. Dois deles podem trazer problemas para o poder executivo: o projeto de reajuste para servidores do judiciário e o projeto do fator previdenciário.

Levy demonstrou preocupação com a possibilidade de derrubada dos vetos e a turbulência na economia brasileira que seria gerada com esse movimento dos parlamentares.

"A manutenção dos vetos é muito importante para manter o nível de equilíbrio da economia. Sustentar o veto é a maneira de combater o desemprego e dar tranquilidade", afirmou.

Levy também destacou que não há mais espaço para ampliação dos gastos, "Se a gente der aumento agora, depois podemos ter grandes dificuldades para pagar o prometido", afirmou.


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