Folha de S. Paulo


Financiamento de porto em Cuba foi técnico, diz diretora do BNDES

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
Luciene Ferreira Monteiro Machado, diretora de comércio exterior do BNDES, em depoimento a CPI
Luciene Ferreira Monteiro Machado, diretora de comércio exterior do BNDES, em depoimento a CPI

Em depoimento à CPI do BNDES, que investiga empréstimos suspeitos concedidos pelo banco de 2003 a 2015, a diretora de comércio exterior do banco, Luciene Machado, afirmou que as operações de financiamento para as obras no Porto de Mariel, em Cuba, seguiram todos os trâmites técnicos.

A obra foi feita pela Odebrecht, empreiteira agora investigada naOperação Lava Jato, acusada de corrupção na Petrobras.

A declaração de Luciene foi uma resposta ao relator da CPI, deputado José Rocha (PR-BA), que questionou as garantias aceitas pelo BNDES para conceder o empréstimo ao governo cubano. Rocha citou reportagem da revista "Época" desta semana, segundo a qual, segundo ele, o Brasil aceitou garantias "excepcionais" e deu prazos mais longos que os usuais.

"Temos aqui o caso de financiamento de um porto, um projeto de alta complexidade, construído em Cuba. O que o banco faz em situações como essa, no Brasil ou fora, é tentar adequar o financiamento ao prazo de retorno do projeto", afirmou a diretora.

Ela citou como exemplo, para comparação, os prazos nos casos dos financiamentos de hidrelétricas, como a de Belo Monte.

Segundo Luciene, as taxas aplicadas também foram adequadas à moeda utilizada no negócio, o dólar –e, por isso, apenas compará-las numericamente às taxas aplicadas dentro do Brasil, em reais, não faria sentido. Ainda assim, afirmou, as taxas aplicadas foram maiores que as de outros países.

A diretora confirmou, conforme noticiou a "Época", que uma das garantias aceitas foi o dinheiro advindo da venda do tabaco produzido em Cuba, e negou ter havido quaisquer irregularidades.

"As operações de Mariel passaram por todos os ritos internos, as garantias foram analisadas. O dinheiro foi sendo liberado conforme avançava a obra e, em janeiro do ano passado, o porto estava concluído", disse.

LULA

Questionada pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) sobre suspeitas de tráfico de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na concretização dos negócios em Cuba, Luciene afirmou que não houve tal interferência. A diretora do banco destacou ainda que, em sua carteira, nunca houve inadimplência.

O vice-presidente do BNDES, Wagner Bittencourt, também prestou depoimentos aos deputados da CPI.

Em resposta a questionamentos, Bittencourt afirmou que o banco não teve prejuízos com os investimentos nas empresas do grupo EBX, do empresário Eike Batista, e que o banco ainda não reavaliou os dados cadastrais e o rating (classificação de risco) das empresas envolvidas na Lava Jato, para eventuais novos contratos com elas.


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