Folha de S. Paulo


'Não tenho o que dedurar', diz Marcelo Odebrecht sobre delação

Giuliano Gomes
O executivo Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba
O executivo Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba

O presidente afastado da empreiteira Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou nesta terça-feira (1º) à CPI da Petrobras que "não tenho o que dedurar", rejeitando a hipótese de um acordo de colaboração premiada na Operação Lava Jato, e disse que a investigação está causando "desgaste desnecessário".

Ressaltando aos deputados que não poderia comentar detalhes das acusações que responde na Justiça, porque serão defendidas pelos seus advogados no processo, Marcelo foi o primeiro executivo da empreiteira Odebrecht a responder perguntas da CPI nesta sessão.

Também foram ouvidos outros quatro executivos da Odebrecht: Márcio Faria, Rogério Araújo, César Ramos e Alexandrino Alencar, mas todos ficaram calados.

Marcelo Odebrecht foi preso em junho como parte das investigações da Lava Jato, sob acusação de integrar o esquema de corrupção na Petrobras e formar um cartel para obter contratos com a estatal. Ele teve a prisão prorrogada em julho.

Questionado pelo deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) se tinha intenção de firmar uma colaboração, Marcelo deu um exemplo com suas filhas.

Segundo Odebrecht, quando elas brigavam e ele perguntava quem provocou a briga, "eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que com aquele que fez o fato".

"Para alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar. Esse é o primeiro fato. Isso eu acho que não ocorre aqui", declarou. Ele disse que a Polícia Federal lhe ofereceu a possibilidade de um acordo de colaboração quando foi ouvido.

Marcelo Odebrecht ainda afirmou que sua defesa não teve acesso a todas as provas contra ele e, respondendo a perguntas sobre pressões pelo esvaziamento das investigações ou da possibilidade de fuga da prisão, disse "jamais".

O advogado Nabor Bulhões, que defende Marcelo Odebrecht, destacou que a fala do executivo na CPI buscou chamar atenção para o cerceamento de defesa que ele e outros investigados na operação vêm sofrendo. "A defesa tem que conhecer não só o teor da acusação, mas todos os elementos que o MPF (Ministério Público Federal) se baseia para fazer a denuncia, e isso não aconteceu até agora. A situação é preocupante, traduz um enorme cerceamento de defesa para todos os acusados, entre eles o Marcelo", disse à Folha.

Em agosto, a defesa do executivo protocolou uma petição solicitando ao juiz Sérgio Moro acesso a todas as delações premiadas que foram usadas pelo MPF para oferecer a denuncia contra Marcelo Odebrecht. O documento também pede acesso a registros sobre as doações bancárias envolvendo as empresas Intercorp, Trident, Klienfeld, Pexo Corporation e Quinus, e à integra de processos instaurados pelas Comissões Internas de Apuração da Petrobras, entre outros materiais.

DESGASTE

O presidente da Odebrecht afirmou ainda que a Lava Jato "está gerando desgaste desnecessário para a Petrobras e as empresas nacionais" e que "nós devíamos cuidar melhor tanto da imagem da Petrobras como das empresas nacionais".

Questionado sobre a atual imagem da Odebrecht vinculada à corrupção, Marcelo chamou-a de "fenômeno da publicidade opressiva" e disse inclusive contar com os deputados para reverter essa concepção.

Em sua fala inicial, Marcelo disse que "sempre" esteve à disposição para ser ouvido antes de ser preso, mas reclamou que só foi ouvido uma vez pela Polícia Federal, e após a sua prisão.

Questionado pelo deputado Bruno Covas (PSDB-SP) se conversou sobre a relação entre a Odebrecht e a Petrobras em encontros com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Lula, Marcelo respondeu positivamente. "É provável e mais do que natural", disse e ressaltou ter se tratado de conversas "republicanas" e que provavelmente falaria sobre o tema com amigos, empresários e outros políticos.

A questões sobre as acusações de fazer parte de um cartel de empreiteiras ou de pagamento de propina, por exemplo, Marcelo não quis comentar.

Apesar de preso e afastado do dia a dia da empresa, o empreiteiro disse que a Odebrecht "continua absolutamente sólida" e vai superar a crise. "Cada um de nós vai superar esse momento e vamos sair mais fortalecidos dessa crise", afirmou.

O ex-gerente da Petrobras Celso Araripe optou pelo silêncio também, mas chegou a afirmar que foi demitido da estatal sem ter conhecimento do relatório que lhe acusou.


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