Folha de S. Paulo


Serra atribui a 'senadoras' parte do atraso em projeto do pré-sal

O senador José Serra (PSDB-SP) atribuiu nesta sexta-feira (28) às "senadoras mulheres" parte da responsabilidade pelo adiamento da votação de seu projeto de lei que revê a obrigatoriedade da Petrobras em operar todos os poços de petróleo do pré-sal.

Em debate promovido pela Câmara de Comércio Americana do Rio, o senador disse que as senadoras são mais suscetíveis ao argumento de que uma matéria precisa ser mais debatida.

"Foi ao plenário e não se conseguiu votar, na linha [de argumentação] de que é um assunto profundo, precisa entender melhor. Isso comoveu muitos senadores que, em tese, são a favor. Senadores mulheres então... Se quiser ganhar voto de senadora mulher, é só falar que precisa aprofundar, precisa conhecer melhor, [que] é uma mudança importante e não pode ser feita de forma atropelada. As mulheres, mesmo estando do seu lado, fecham para deixar para depois", disse o tucano.

O Senado tem 13 mulheres, de 81 cadeiras. Apenas uma ocupa a Mesa Diretora –Ângela Portela (PT-RR), quarta-secretária. A urgência do projeto de lei de Serra foi retirada em julho e, segundo Serra, deve voltar à pauta em setembro.

Questionado pela Folha após a palestra sobre o motivo pelo qual atribuiu a característica às senadoras, Serra afirmou que a fala tratou-se de brincadeira.

"Estava brincando com as mulheres. Era uma brincadeira. Elas são mais suscetíveis que a média na ideia de que não se pode fazer nada precipitado. São mais prudentes, o que é uma virtude", declarou o senador.

Serra afirmou crer que seu projeto será aprovado no Congresso. Ele disse que a proposta beneficia a Petrobras, já que a exime da obrigatoriedade num momento de crise financeira da empresa.

"Ela está numa situação difícil e é obrigada a investir 30% de cada nova área do pré-sal e ser operadora única. Ela não pode cumprir isso. Se for cumprir isso vai se endividar ainda mais", afirmou o senador.

O projeto retira a obrigatoriedade da Petrobras ser a operadora dos poços do pré-sal e ter ao menos 30% dos consórcios criados para a exploração da área. Mas ele dá à estatal a possibilidade de indicar em quais campos tem interesse, nos quais a regra atual poderia ser mantida.

"Se for bom negócio, ela decide e pega", disse Serra.

O senador tucano propôs também a privatização do controle de três subsidiárias da Petrobras –Gaspetro, Transpetro e BR Distribuidora. Para ele, a empresa lucraria mais com a medida do que com a venda de ações.

"Cada empresa tem sua existência própria, com a Petrobras como uma holding que detém o controle de todas. A partir daí tem muito mais liberdade para, eventualmente, desaparecer com a empresa, vender. Não tem cabimento fazer óleo de mamona. A finalidade da Petrobras é descobrir petróleo e produzir. Isso é o básico. Agora está vendendo ações da Gaspetro a preço de banana. Era melhor vender o controle e ficar com a maioria das ações. Por que aí ganha dinheiro e recupera financeiramente a empresa", disse Serra.

Para ele, o projeto vem recebendo críticas de alguns senadores governistas e de sindicatos porque "a antiga esquerda não tem o que falar para o Brasil e inventa espantalhos".

CRÍTICAS A DILMA

Serra também ironizou em seu discurso a presidente Dilma Rousseff e o ministro Renato Janine (Educação).

Ao comentar uma reunião entre governadores e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano, então governador de São Paulo, disse ter questionado o petista sobre o motivo da mudança do regime de exploração do petróleo de concessão para partilha.

"O presidente Lula passou para a [então] ministra Dilma, que eu garanto para vocês que fez uma fundamentação mais precária que eu fiz em 1964 [quando era presidente da UNE, em comício ao lado do presidente João Goulart] para estatizar as refinarias. Com mais paixão do que eu num comício", disse o tucano, para risos da plateia, formada por empresários do setor de petróleo.

O senador chamou Janine de "filósofo mediano", ao criticar o argumento do ministro de que o regime de partilha vai aumentar o investimento na educação.

"Ele foi ao Congresso e disse que a educação iria perder o dinheiro do pré-sal [caso o projeto fosse aprovado]. O governo federal gasta menos do que os Estados e municípios em educação no agregado. No ponto melhor, dá 1,5% do orçamento em educação. Tanta onda... E o ministro foi dizer isso lá. O projeto não toca nisso", disse Serra.

CPMF

Serra afirmou que o PSDB vai votar contra uma eventual proposta de retorno da CPMF, em estudo no governo federal.

"Falar em aumento de impostos nessa altura, é evidente que desperta muitas reações. Acho difícil passar no Congresso. O governo não tem claro o que fazer. Não é que eles querem atrapalhar. Eles estão atrapalhados. Eu agora, agora apoiar volta de imposto? Meu partido vai ser contra."


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