Folha de S. Paulo


OPINIÃO

Desnorteado, Planalto semeia o próprio desgaste

Nestes dias, tem-se a impressão de que um estrategista tucano tornou-se a cabeça oculta a planejar as reações do círculo presidencial à crise. Não há nada mais perfeito para os adversários de Dilma Rousseff, e eles a esta altura estão por toda parte, do que a proposta assoprada pelo Planalto de recriar a CPMF, o tributo sobre movimentações financeiras.

Um cálculo simples de custos e benefícios, do que parece ser capaz até mesmo o brancaleônico séquito presidencial, teria evitado dar esse presente formidável aos inimigos. Imagine-se o sorriso que Eduardo Cunha, ferido de morte pela Lava Jato, deve ter produzido ao saber das novas intenções tributárias do governo. Pode tornar-se mais uma vez o algoz de uma ideia impopular surgida no Planalto.

Será também um banho de água fria no que resta de apoio à permanência da presidente em alguns círculos empresariais, que o fazem mais por temor do desconhecido e cacoete de beliscar privilégios na xepa da crise que por amor a Dilma. Acenar com a CPMF, nesse caso, equivale a enxotar o médico que mantém o paciente vivo, ligado em aparelhos.

Nem mesmo o então presidente Lula, com alta popularidade e em pleno boom econômico da década passada, logrou sustentar a cobrança da CPMF, que necessita do endosso de 60% dos congressistas em quatro votações, duas em cada Casa. Dilma, a presidente mais impopular desde a redemocratização, conta os votos na Câmara para não perder o mandato.

Que tempestade mental faz alguém pensar que ela teria melhores condições de fazer passar a proposta de volta do tributo? A hipótese galhofeira de que existe um conselheiro tucano a assessorar a presidente ganha força.

Nessa toada, o governo Dilma Rousseff não precisará de oposição para tornar-se inviável. Vai apodrecer e cair pela entropia do próprio metabolismo.


Endereço da página:

Links no texto: