Folha de S. Paulo


Bancos suíços sabiam de risco de propina

Em 2007, Paulo Roberto Costa abriu uma conta em Genebra e o alarme do HSBC Private Bank soou.

O banco classificou o diretor da estatal brasileira como "pessoa politicamente exposta" –no jargão do mercado, alguém com risco receber recursos de origem escusa– e abriu uma apuração.

Pouco depois, o formulário de aprovação cravava que o risco era baixo.

O sinal verde veio após relatório de um consultor "independente": Bernardo Freiburghaus, hoje réu da Lava Jato sob acusação de operacionalizar o pagamento de propina da Odebrecht para Costa no exterior.

Ao menos dez instituições financeiras do país escoaram dinheiro desviado da estatal.

Inicialmente, as investigações no país se concentraram sobre ex-dirigentes da Petrobras e operadores. Em julho, a Odebrecht e pessoas ligadas à empresa passaram a ser alvo de inquéritos no país.

Segundo fontes próximas da investigação, mais de cem contas bancárias entraram no radar dos investigadores e o equivalente a R$ 1,2 bilhão já foi bloqueado. O número de contas é crescente.

"O sistema financeiro suíço tem sido seriamente afetado pelo escândalo da Petrobras porque muitas pessoas acusadas e até condenadas no Brasil conduziram operações altamente suspeitas em contas aqui", reconheceu o escritório da Procuradoria-Geral da Suíça à Folha.

Invocando sigilo judicial, a Procuradoria suíça não informou nomes dos suspeitos.

Ainda não existe investigação formal sobre nenhum banco suíço, segundo a Folha apurou, mas o setor financeiro deverá ser o próximo elo da cadeia da corrupção ligada à Petrobras.

Por meio do canal de cooperação internacional, o Ministério Público daquele país pediu acesso aos autos da Lava Jato para instruir suas próprias investigações.

GERENTE MILIONÁRIO

Três delatores da Lava Jato também implicaram funcionários graduados de bancos suíços. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco contou que Denise Kos, ex-executiva dos bancos Safra-Sarasin e atualmente do Lombard Oder, o ajudou a lavar US$ 97 milhões em propinas de contratos com a estatal.

Segundo ele, Kos fez o dinheiro circular por quatro bancos diferentes e também facilitou a abertura de contas. Após terem firmado acordos de delação em que concordaram em devolver R$ 226 milhões, os lobistas Julio Faerman e Mário Góes também disseram que tiveram a ajuda da executiva.

CONSEQUÊNCIAS

Segundo analistas, a Operação Lava Jato pode trazer consequências incômodas para o setor bancário no país, que nos últimos anos endureceu as regras antilavagem de dinheiro para melhorar a reputação do país.

"O sistema é muito estrito. Mesmo se a cumplicidade com a lavagem não for provada no plano criminal, condenações graves [de bancos] podem acontecer no âmbito do direito econômico", afirma Millicent Larrey, diretora da Vision Compliance, firma de consultoria que é baseada em Genebra.

Em junho, o HSBC pagou multa de 40 milhões de francos (R$ 148 milhões) em acordo para encerrar investigações do caso SwissLeaks.

OUTRO LADO

Procurado, o HSBC Private Bank na Suíça não quis emitir comentários sobre a abertura de conta para o então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, após de tê-lo identificado como "politicamente exposto" (com risco de receber recursos ilícitos).

Em nota, a instituição disse somente que "está colaborando com as investigações".

O banco também não quis responder sobre a relação com Bernardo Freiburghaus –réu na Lava Jato sob acusação de distribuir propina da Odebrecht a Costa. Freiburghaus foi o consultor que atestou idoneidade do ex-diretor para abertura da conta.

A Odebrecht e Freiburghaus sempre negaram a acusação feita pelo Ministério Público Federal de envolvimento com corrupção.

Denise Kos, executiva implicada em suspeita de lavagem de dinheiro por delatores, não foi encontrada.


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