Folha de S. Paulo


Mesmo denunciado, Cunha conta com séquito de seguidores

OS HOMENS DO PRESIDENTE

Mesmo com o desgaste após a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conta com um fiel séquito de seguidores que têm lhe dado apoio desde o início de sua presidência e permanecem ao seu lado após as suspeitas de participação no esquema de corrupção da Petrobras.

Esses aliados foram alocados para cuidar de projetos de interesse de Cunha, como a maioridade penal e a reforma política, e são alçados a posições estratégicas nas quais podem trabalhar em favor do peemedebista.

Cunha nega que interfira no trabalho de comissões ou de deputados. "Atendo à solicitação dos partidos e coordeno a articulação deles. As indicações são dos líderes [das bancadas]".

É o caso, por exemplo, do deputado Hugo Motta (PMDB-PB). Aos 25 anos e no segundo mandato, ele ganhou os holofotes depois de ter a missão de presidir a CPI da Petrobras, criada em fevereiro.

Na condução da comissão, porém, foi acusado por deputados do PT e do PSOL de agir para blindar Cunha. Isso porque Motta tem evitado a convocação de depoentes que poderiam implicar o presidente da Casa no esquema de corrupção da Petrobras, como o lobista Julio Camargo —que, em sua delação premiada, disse que Cunha recebeu US$ 5 milhões de propina.

Questionado, Motta admitiu manter conversas com Cunha sobre a CPI, mas disse que não há interferência.

Também na CPI, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) foi chamado de "pau-mandado" pelo doleiro Alberto Youssef, por ter pedido a quebra do sigilo de familiares do doleiro. Em sua delação, Youssef acusou Cunha de ser beneficiário do petrolão.

Pansera apresentou requerimentos contra adversários de Cunha. Além de Youssef, pediu a convocação da advogada Beatriz Catta Preta, que defendia Camargo. O deputado nega agir a mando de Cunha.

Já o deputado André Moura (PSC-SE) se manteve ao lado de Cunha em um momento delicado: logo após vir a público a acusação de Julio Camargo, no mês passado.

Moura era um dos poucos ao seu lado durante uma declaração à imprensa em plena sexta-feira, dia em que normalmente os deputados estão fora de Brasília.

Sob a presidência de Cunha, foi presidente da comissão que discutiu o projeto de maioridade penal e sub-relator da CPI da Petrobras que cuidou do contrato com a Kroll. O objetivo da empresa de investigação era rastrear bens omitidos pelos delatores, o que poderia fragilizar as acusações contra Cunha.

Chegou a ser chamado de "lambe-botas" pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP) durante uma discussão acalorada no plenário da Câmara.

Paulinho da Força (SD-SP) é um dos interlocutores mais frequentes de Cunha, assíduo na residência oficial e canalizador de apoio da Força Sindical ao peemedebista.

Paulinho assumiu a linha de frente dos ataques contra o procurador-geral, Rodrigo Janot, que denunciou Cunha. Apresentou requerimento para quebrar o sigilo telefônico de Janot e fez denúncias contra ele a órgãos de controle.

Outros aliados também foram designados para missões relevantes, sempre com o aval de Cunha. Rodrigo Maia (DEM-RJ) refez o relatório da reforma política para atender a seus interesses. Arthur Maia (SD-BA) relatou o projeto de terceirização de mão de obra e preside comissão para proposta que pode barrar a recondução de Janot ao comando da PGR. Arthur Lira (PP-AL) tem dado aval a projetos de interesse de Cunha na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que preside.

CUNHA NA MIRA


Endereço da página:

Links no texto: