Folha de S. Paulo


Escolas fecham e Polícia Civil atende só emergências durante greve no RS

Escolas fechadas, postos de saúde atendendo apenas casos de emergência e poucos policiais nas ruas. Os servidores públicos do Rio Grande do Sul paralisaram suas atividades nesta quarta-feira (19) no primeiro dos três dias de greve geral contra o governo de José Ivo Sartori (PMDB).

Durante a manhã, a Folha percorreu 18 quilômetros nas ruas centrais mais movimentadas de Porto Alegre e não viu nenhum policial da Brigada Militar (a PM gaúcha) a pé ou circulando em carros. A Brigada Militar é proibida por lei de fazer greve, mas adotou uma "operação-padrão": não vão sair às ruas em veículos com documentação irregular (com multas ou IPVA vencidos) nem coletes salva-vidas fora do prazo de validade.

Mas o major Ronie Coimbra, responsável pela comunicação do órgão, negou redução no efetivo nas ruas. Já Leonel Lucas, presidente da associação que representa cabos e soldados, calcula que a redução foi de 20%. Isso porque, segundo ele, muitos ficaram aquartelados por conta dos veículos irregulares.

O governo Sartori não se manifestou sobre a greve nesta quarta-feira.

De acordo com o sindicato dos professores estaduais, 95% das cerca de 3.000 escolas gaúchas aderiram à greve. Na área da saúde, a paralisação foi parcial. O Ambulatório de Dermatologia Sanitária, que cuida de pacientes com HIV e hanseníase, cancelou as consultas e apenas atendeu casos graves.

O descontentamento dos servidores aumentou após a ordem do governador de descontar os dias parados dos grevistas.

"Alguns colegas estão receosos por causa da declaração do governador, mas quem está ilegal é ele", diz Claudio Augustin, presidente do Sindsepe ( Sindicato dos Servidores Públicos do RS). "Greve não é feriado. Nós vamos ao trabalho, mas só atendemos conforme a lei. Não tem falta para descontar", diz Carlos Passos, diretor do Ugeirm (Sindicato dos Escrivães, Inspetores eque pode Investigadores de Polícia do RS).

Os funcionários públicos protestam contra o parcelamento de salários, congelamento dos reajustes e mudanças na aposentadoria. As medidas são iniciativas de Sartori para enfrentar a crise do Estado que resultou no bloqueio das contas pelo governo federal por causa do atraso do pagamento da dívida com a União.

AUMENTO DE IMPOSTOS

Nesta quinta (20), Sartori deve enviar para a votação dos deputados um pacote de aumento de ICMS que, pelos cálculos do governo, pode injetar cerca de R$ 2 bilhões aos cofres gaúchos em 2016. O governo tem tentado convencer sua base aliada a aprovar o pacote.

"Isso é muito nocivo à sociedade. O ICMS é o imposto que incide sobre o consumo das famílias", diz Luiz Carlos Bohn, presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS). Bohn ainda destaca que o Estado não é atrativo "para novos investimentos" e que a alta carga tributária "tem inflado a saída de empresas" do RS.

CONTAS BLOQUEADAS

As contas do governo estão bloqueadas pela União desde a semana passada por causa do atraso no pagamento da dívida federal. A sanção é prevista em contrato. A Secretaria da Fazenda prevê que ocorra o desbloqueio das contas nesta quinta (20), com a entrada de novos recursos da arredação de impostos.

Os servidores temem um novo atraso no pagamento dos salários, como ocorreu em julho. Na ocasião, o governo Sartori pagou em dia somente os funcionários com salário até R$ 2.150. O restante foi pago com 12 dias de atraso.


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