Folha de S. Paulo


País vê governo Dilma como 'ilegítimo' e renúncia seria grandeza, diz FHC

Um dia após as manifestações contra o governo tomarem conta de ruas em todos os Estados do país, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu nesta segunda-feira (17) seu mais duro recado ao governo Dilma Rousseff e seu partido, o PT.

Para FHC, o "mais significativo das demonstrações, como a de ontem" [domingo, 16] é a persistência do sentimento popular de que o governo, "embora legal, é ilegítimo".

O tucano vai além e diz que Dilma precisa ter "um gesto de grandeza" e cita a renúncia como um dos caminhos disponíveis à petista.

"Se a própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo", prevê o tucano.

FHC diz que falta ao atual governo a "base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo".

"Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar."

O ex-presidente falou sobre o assunto em texto publicado em sua página em uma rede social nesta segunda-feira (17). Ao final, diz que sem um mea-culpa ou a renúncia, a situação se agravará "a golpes de Lava Jato", e arremata: "Até que algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães a Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais."

ANÁLISE POLÍTICA

Pouco depois de divulgar sua mensagem nas redes sociais, FHC reuniu em seu apartamento, em São Paulo, os dois líderes que despontam como opções do PSDB para a próxima eleição presidencial, o senador mineiro Aécio Neves e o governador paulista, Geraldo Alckmin.

De acordo com relatos feitos à Folha, Fernando Henrique fez uma análise do cenário político e disse que o partido deveria falar a mesma língua ao discutir as alternativas para o país sair da crise.

Há duas semanas, aliados de Aécio defenderam a renúncia de Dilma e do vice-presidente Michel Temer, e a convocação de novas eleições. Alckmin têm se manifestado com cautela sobre a possibilidade de afastamento de Dilma agora, quando ele não teria condições de deixar o governo do Estado para disputar a indicação do PSDB e se candidatar à Presidência.

Logo após o encontro de FHC com Aécio e Alckmin, o senador Aloysio Nunes (SP), que foi vice da chapa de Aécio na eleição presidencial de 2014, subiu à tribuna do Senado e disse que, se um pedido de impeachment fosse submetido hoje ao plenário da Câmara, o PSDB votaria pelo afastamento de Dilma.

Tucanos interpretaram a fala de Aloysio, que continua muito próximo a Aécio, como um recuo do discurso adotado anteriormente pelos aliados de Aécio que defenderam a realização de nova eleição.

PROTESTOS

Os atos de domingo ocorreram em todos os Estados do país, além do Distrito Federal.

Em São Paulo, cerca de 135 mil pessoas foram à avenida Paulista, de acordo com levantamento feito pelo Datafolha, desde as 14h. Nas manifestações de abril, a estimativa do instituto foi de 100 mil pessoas.

A Polícia Militar estimou o público presente neste domingo em 350 mil. Nas manifestações de abril, a estimativa da PM era de 275 mil pessoas e, nas de março, de 1 milhão.

Dentre manifestantes que compareceram ao ato na av. Paulista, 85% acreditam que a presidente da República deveria renunciar ao cargo, de acordo com pesquisa do Datafolha.

Com reprovação de 71% -a maior desde o início da série histórica do Datafolha, em 1992, sob o governo Fernando Collor-, Dilma é ainda mais rejeitada pelos que compareceram ao ato paulistano. Ao todo, 95% acham que o governo da petista é ruim ou péssimo, 4% o consideram regular e 1%, bom ou ótimo.

Hora a hora na Paulista

Em São Paulo, segundo o Datafolha

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LEIA ABAIXO A ÍNTEGRA DA NOTA DE FHC

O mais significativo das demonstrações, como as de ontem, é a persistência do sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo. Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar. A esta altura, os conchavos de cúpula só aumentam a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, isto é, a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir. Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato. Até que algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais.


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