Folha de S. Paulo


Presidente da Odebrecht terá novo advogado de defesa

Preso desde 19 de junho, o empresário Marcelo Odebrecht, presidente do grupo que leva o seu sobrenome, decidiu trocar de advogado: sua defesa será feita por Nabor Bulhões, um criminalista de Brasília, no lugar de Dora Cavalcanti, que foi sócia do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (1935-2014).

Bulhões atuou na defesa do ex-presidente Fernando Collor no processo de impeachment em 1992 e na do bicheiro Carlos Cachoeira.

O advogado já fazia parte da equipe da Odebrecht, mas sua função era tratar da defesa da empreiteira nos tribunais superiores, em Brasília.

Brunno Covello/Gazeta do Povo/Folhapress
Polí­cia Federal transfere Marcelo Odebrecht para o Complexo Médico Penal, em Pinhais
Polí­cia Federal transfere Marcelo Odebrecht para o Complexo Médico Penal, em Pinhais

Dora passa a cuidar exclusivamente da defesa de Márcio Faria, ex-diretor da Odebrecht que atuava em negócios com a Petrobras.

Marcelo Odebrecht não explicou por que fez a troca, mas a atuação da advogada era vista como problemática por executivos que trabalham com Marcelo, segundo a Folha apurou, por causa da agressividade com que tratava o juiz federal Sergio Moro.

Dora ficou conhecida na Operação Lava Jato pelos ataques duros que fez a Moro, que conduz os processos sobre desvios na Petrobras e outras empresas estatais na Justiça de primeira instância.

Quando o juiz pediu explicações sobre anotações feitas por Marcelo no celular, Dora respondeu: "Inútil falar para quem parece só fazer ouvidos de mercador".

Segundo a advogada, o juiz já havia prejulgado a questão ao se deparar com expressões escritas pelo empresário, como "trabalhar para parar/anular a investigação" e "dissidentes PF", e interpretá-las como uma tentativa de dificultar a apuração da Polícia Federal.

A OAS adotou uma estratégia similar à de Dora e seu ex-presidente, José Aldemário Pinheiro Filho, o Leo Pinheiro, condenado na quarta (5) a 16 anos e 4 meses de prisão.

O comunicado da troca foi feito pelo próprio empresário nesta quinta-feira (6), durante a visita da advogada ao Complexo Médico Penal do Paraná, que fica na região metropolitana de Curitiba, onde Marcelo está preso.

Dora disse à Folha que a troca é "uma estratégia do departamento jurídico da Odebrecht" e não significa que ela está deixando a defesa do grupo: "Vou continuar no coração do caso, que são os contratos da Petrobras".

Segundo ela, a designação de Bulhões para a defesa de Marcelo faz parte de uma estratégia de cada um dos acusados de "ter uma representação individual, para que a defesa possa frisar as particularidades" de cada caso.

Em nota, a Odebrecht disse que "essa representação individualizada possibilitará que sejam respeitadas as particularidades e a autonomia de cada uma das empresas do grupo, bem como de seus executivos".

Na próxima segunda vence o prazo para que os advogados de Marcelo apresentem a sua defesa à Justiça. Ele é réu sob acusação de lavagem de dinheiro, corrupção e de integrar uma organização criminosa. O juiz aceitou denúncia que acusa a Odebrecht de ter pago US$ 16,4 milhões (R$ 58 milhões) a ex-diretores da Petrobras na Suíça, o que o grupo refuta com veemência.


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