Folha de S. Paulo


Mercadante cobra 'responsabilidade compartilhada' da Câmara contra crise

Alan Marques/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 05.08.2015. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, participa da comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados para falar sobre a crise na indústria naval. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
O ministro Aloizio Mercadante participa de comissão na Câmara para falar sobre crise na indústria naval

Num momento em que o governo enfrenta uma rebelião na base aliada, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, fez mais um movimento de aproximação com a oposição na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (5). Ao reconhecer erros do governo, ele propõe um acordo suprapartidário para questões que envolvem política de Estado.

Lembrando êxitos do governo do PSDB, como o controle de inflação, ele afirmou a necessidade de "haver responsabilidade compartilhada" sobre as mudanças que o governo tenta colocar em prática, referindo-se ao ajuste fiscal.

"Vivemos um momento politizado, com erros que cometemos, e se comete quando se governa", avaliou o ministro que admitiu ainda não ser "papel da oposição sustentar o ajuste fiscal", mas sim da base.

"Mas podemos ser mais parceiros em questões que são tarefas de Estado. Mudanças que estamos tentando fazer, que não são para esse governo, mas para o futuro e têm que haver responsabilidade compartilhada", propos o chefe da Casa Civil, em resposta ao deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS).

Mercadante participa nesta manhã de uma audiência pública sobre a crise do setor naval. Ao longo de sua fala inicial, o ministro reconheceu que a Operação Lava Jato causou impacto considerável à economia.

Marchezan alfinetou o ministro dizendo que a base aliada tem votado contra os interesses do governo e que não é culpa da oposição a demora na aprovação do ajuste fiscal.

Mercadante aproveitou a oportunidade para sair em defesa da presidente Dilma Rousseff, a quem descreveu como "uma mulher honrada".

A declaração ocorreu também em resposta a críticas de Marchezan, pelo fato, segundo ele, de que nenhum outro ministro da Casa Civil dos governos petistas ter comparecido a uma comissão temática da Câmara.

O tucano mencionou ainda que Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras, quando ministra da Casa Civil, período durante o qual, conforme as investigações, ocorreram as irregularidades na estatal.

"No caso do [Pedro] Barusco, que foi mencionado, só foi possível saber o que aconteceu depois da delação premiada. Às vezes, o gestor não tem condições de saber tudo o que aconteceu."

Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, está envolvido no esquema de corrupção da Petrobras e firmou acordo de delação premiada no caso.

BARCO BRASIL

Ao final da audiência, Mercadante voltou a ressaltar a importância de "haver uma consciência da oposição e da base" e, assim como fez o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, semana passada, jogou parte da responsabilidade pela saída da crise para o Congresso Nacional.

"Vamos sair mais rápido da crise quanto mais comprometido com a responsabilidade fiscal as lideranças políticas do país estiverem". Ele também criticou o que chamou de "radicalização". "A oposição não pode ser da ideia do quanto pior, melhor".

Mercadante também cobrou a manutenção dos vetos que a presidente Dilma Rousseff fez a propostas que oneram mais os cofres públicos. "Conseguimos preservar a essência do ajuste fiscal e projetos que não têm viabilidade econômica, o governo vetou. É muito importante que o Congresso mantenha os vetos. Precisamos de equilíbrio, bom senso, de saber que estamos todos no mesmo barco que se chama Brasil".

REBELIÃO

O gesto do chefe da Casa Civil corrobora com os movimentos de governistas no último mês. Conforme informou a Folha, o ex-presidente Lula indicou que amigos em comum com o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso o procurem e proponham uma conversa. A presidente Dilma Rousseff teria apoiado a ideia, assim como ministros, que passaram a adotar um discurso conciliador.

A ideia de uma conversa foi rechaçada por FHC, que avaliou não ser esse o melhor momento para uma conversa com o governo.

Nesta terça-feira (4), o governo sofreu uma nova derrota na Câmara, no primeiro dia da retomada dos trabalhos legislativos após o recesso. O primeiro item da chamada pauta-bomba deverá ser votado nesta quarta.

Trata-se da PEC 443, que equipara salários da AGU (Advocacia-Geral da União) e de delegados aos do Judiciário. A proposta aumenta os gastos com a folha de pagamento da União e também de Estados e municípios.

Apesar do acordo que havia em torno da rejeição do requerimento de retirada de pauta, vários deputados da base mudaram seus votos e não seguiram as orientações de suas respectivas bancadas.


Endereço da página:

Links no texto: