Folha de S. Paulo


Delatores da Lava Jato doaram para campanha de filho de Dirceu à Câmara

Laycer Tomaz - 14.abr.15/Câmara dos Deputados
O deputado federal Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu, na Câmara, em Brasília
O deputado federal Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu, na Câmara, em Brasília

Três delatores na Operação Lava Jato cujos depoimentos colocaram José Dirceu na mira da investigação que apura o escândalo de corrupção na Petrobras realizaram doações para a campanha a deputado federal de Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro, na eleição de 2010.

Pivô da fase "Pixuleco" da Lava Jato que levou Dirceu à prisão nesta segunda-feira (3), Milton Pascowitch realizou aporte de R$ 10 mil na campanha de Zeca em 2010. Seu irmão, José Adolfo Pascowitch, realizou uma doação do mesmo valor ao congressista.

Outro delator da Lava Jato que também doou a Zeca Dirceu foi o lobista Julio Gerin de Almeida Camargo, também com R$ 10 mil naquele ano.

As doações dos três representaram menos de 2% dos R$ 1,5 milhão arrecadados pelo deputado naquele ano. Na eleição de 2014, quando a Lava Jato já avançava na apuração do cartel e dos pagamentos a políticos, nenhum dos três delatores figura como doador de campanha.

Lula Marques - 5.fev.2013/Folhapress
O ex-ministro José Dirceu, ao lado de seu filho, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), em imagem de 2013
O deputado Zeca Dirceu (PT-PR, à esq.), ao lado de seu pai, o ex-ministro José Dirceu, em 2013

Em junho, os irmãos Pascowitch fecharam um pacto para entregar informações do esquema de corrupção na Petrobras em troca de redução de pena.

Eles são donos da Jamp Engenheiros Associados Ltda, empresa apontada como fachada para escoar propina paga por empreiteiras beneficiadas no esquema de corrupção da Petrobras.

Responsável por aproximar a construtora Engevix do PT, Milton Pascowitch disse que repassou R$ 3,8 milhões em propina a Dirceu, incluindo pagamentos à sua firma de consultoria, reformas no apartamento de seu irmão em São Paulo e numa casa em Vinhedo (SP), onde Dirceu morava antes de começar a cumprir pena pelo mensalão, e a compra de um imóvel de uma das suas filhas.

Camargo, que fechou acordo com a Procuradoria em outubro, mudou sua versão no final de junho, após os investigadores descobrirem que ele vinha silenciando sobre alguns políticos para protegê-los.

Sob o risco de perder os benefícios do acordo, ele contou, em duas audiências com o juiz Sergio Moro, ter pago US$ 5 milhões ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e feito um pagamento de R$ 4 milhões a José Dirceu. Na época, tanto o presidente da Câmara quanto o ex-ministro negaram as alegações.

Em 2010, Julio Camargo também realizou doações a outros congressistas.

Também receberam dinheiro do lobista em suas campanhaS os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ, R$ 200 mil), Delcídio do Amaral (PT-MS, R$ 100 mil) e Marta Suplicy (ex-PT-SP, R$ 100 mil), além do deputado Robson Tuma (PTB-SP, R$ 50 mil).

OUTRO LADO

O advogado do ex-ministro José Dirceu, Roberto Podval, afirmou na segunda-feira (3) que os pagamentos recebidos pelo petista referem-se a serviços prestados e que a prisão foi "política", sem "justificativa jurídica".

Por meio de nota, a assessoria do deputado Zeca Dirceu afirmou que todas as doações recebidas na campanha de 2010 pelo congressista foram legais e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Segundo a nota, o nome dos doadores é de conhecimento público desde 2010 e já foi, no início deste ano, divulgado novamente por vários órgãos de imprensa. "Durante o debate sobre a reforma política, o deputado defendeu o fim das doações de empresas para candidatos, assim como obteve destaque na luta para impor rígidos limites às despesas de campanhas e duras penas a quem infringi-los".

A Folha ainda não conseguiu ouvir os outros beneficiários de doações eleitorais de Julio Camargo em 2010.


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