Folha de S. Paulo


Abatido, Dirceu esperava que fosse preso na Operação Lava Jato

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso nesta segunda-feira (3) em nova fase da Operação Lava Jato, já esperava que fosse detido.

O delegado da Polícia Federal que acompanhou Dirceu até a carceragem, Luciano Flores de Lima, afirmou que o ex-ministro disse não estar surpreso com a própria prisão.

"Quando saiu a notícia da imprensa, ele disse exatamente isso, que já estava esperando (a prisão) e que todos os dias havia jornalistas na porta da casa dele", contou Flores de Lima.

De acordo com ele, o ex-ministro mostrou-se tranquilo durante todo o tempo.

Dirceu passará a noite na Superintendência da PF de Brasília, onde está detido desde a manhã desta segunda-feira. Ele deve ser transferido a Curitiba nesta terça.

O relato de amigos e aliados que conversaram com ele nas últimas semanas indica que o petista estava fragilizado emocionalmente e fisicamente, mas conformado com a possibilidade de ser preso durante o cumprimento de pena domiciliar pelo escândalo do mensalão.

Segundo a descrição destes amigos, o número dois no início do governo do ex-presidente Lula estava abatido e sem a voz de comando característica de seu tempo de militância política e de trajetória partidária.

O petista perdera peso e estava preocupado com o fato de não ser mais réu primário e com a possibilidade de seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, sócio dele na JD Consultoria, também ser detido, o que ocorreu nesta segunda.

Em sua residência em Brasília, onde cumpria prisão domiciliar, José Dirceu passava boa parte do tempo nas últimas semanas com a filha mais nova, Maria Antônia, de 5 anos, assistindo a desenhos animados. Nesse período, seu advogado, Roberto Podval, chegou a dormir duas noites em sua residência.

"Dirceu tinha vontade de ser redescoberto depois do mensalão, mas agora a vontade dele era de ser esquecido", resumiu um aliado petista.

O ex-ministro, segundo relatos, acordava cedo para ler os jornais, blogs e sites jornalísticos. Em um caderno, anotava o que considerava incongruências e equívocos nas acusações contra ele.

Às pessoas que o visitavam o petista sempre externava a preocupação com o futuro da filha Maria Antonia e também com o longo período que poderia durar sua detenção.

Chamava a atenção dos amigos a postura "totalmente entregue", diferente dos tempos em que ficou detido no presídio da Papuda, em Brasília, quando manifestava se sentir um preso político e fazia planos de reconstruir a vida pública.

O ex-ministro da Casa Civil foi citado em depoimento pelo ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo, segundo o qual entregou R$ 4 milhões em dinheiro vivo ao petista a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque.

Ele virou alvo dos procuradores da Operação Lava Jato porque várias empreiteiras sob investigação fizeram pagamentos à empresa de consultoria que ele abriu depois de deixar o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, no auge do escândalo do mensalão.

O ex-ministro faturou como consultor R$ 39 milhões entre 2006 e 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram a ele R$ 9,5 milhões, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu -o que ele nega- e atualmente preso em Curitiba.

COMIDA SEM SAL

José Dirceu chegou ao prédio da PF queixando-se de mal estar e solicitou a presença de um médico de sua confiança.

Segundo o delegado Luciano Lima, foi constatado que o ex-ministro estava com pressão alta. Ele foi medicado e passa bem.

O delegado relatou ainda que Dirceu comeu a mesma marmita que os demais presos, porém, sem sal, em virtude de sua condição de saúde.

No final da tarde, o petista recebeu a visita de sua companheira, Simone Patrícia Tristão Pereira. Ela trouxe roupas e roupas de cama para Dirceu.

Como foi examinado na superintendência, Dirceu não precisou fazer exame corpo de delito. De acordo com a PF, seu médico emitiu um atestado que substitui o procedimento.

CASA NOVA

Antes de se tonar um dos focos da Operação Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu tinha planos de retomar a vida e se mudar para Vinhedo (SP). Há cerca de dois anos, comprou uma nova casa em um condomínio fechado na cidade e a reformou.

Os honorários da arquiteta foram pagos pelo lobista Milton Pascowitch, que disse, em seu acordo de delação premiada, que intermediou pagamentos de propinas ao petista.

Apesar do investimento na residência em Vinhedo, Dirceu nem chegou a conhecer o imóvel.


Endereço da página:

Links no texto: