A Folha tentou diversas vezes falar com o ex-presidente da Sete João Brasil Carlos Ferraz, mas ele não quis conversar com a reportagem.
Reportagem da Folha desta segunda-feira (20) mostra que, numa carta enviada em março à direção da empresa, ele admite pela primeira vez que recebeu US$ 1.985.834,55 em propina dos estaleiros que trabalham para a companhia na construção de sondas de exploração do pré-sal.
Na carta, Ferraz afirma ter aceito as "gratificações" num "momento de fraqueza", em que era pressionado por colegas. Ele não esclarece quem pagou nem quem o pressionou. Diz que não pegou nada além do que declarou e pede um número de conta bancária para devolver o dinheiro.
Na primeira vez em que a reportagem tentou contato com o executivo, ele atendeu o telefone, disse que não podia falar e desligou. Houve mais duas tentativas frustradas no dia seguinte.
Na carta enviada à Sete, em que admite ter recebido propina de estaleiros, o executivo disse ter sofrido pressão duas vezes para entrar no esquema, mas não identifica quem o pressionou.
Afirma ter rechaçado a abordagem no primeiro momento, mas, em 2012, passou a receber diversos "avisos em tom intimidatório de que seria mais seguro para ele aceitá-las (propinas)". Além disso, seria mais vantajoso para todos envolvê-lo na operação, "de modo a blindá-la".
Eduardo Musa, ex-diretor de participações, foi questionado por telefone sobre os US$ 786 mil supostamente recebidos do estaleiro Jurong. Ele não quis responder nem indicar um advogado para discutir o assunto com a reportagem.
ESTALEIROS
O estaleiro Enseada afirmou, em nota,"que nunca fez ou recebeu qualquer pagamento indevido no âmbito de seus contratos nem tampouco recebeu ou atendeu a qualquer solicitação neste sentido". A Engevix, sócia do Rio Grande, diz que "está prestando os esclarecimentos necessários à Justiça".
Também em nota, o EAS disse que "não identificou quaisquer pagamentos que comprovem o envolvimento da companhia". A empresa informou ter contratado consultoria jurídica e forense para averiguar o caso.
O Jurong não respondeu até o fechamento desta edição.
A reportagem também não conseguiu contato com Brasfels nos telefones e e-mail disponíveis na página da empresa na internet e na lista telefônica.