Folha de S. Paulo


Em recado ao Planalto, presidente do Senado cria duas CPIs

Renato Costa - 8.jul.15/Folhapress
O presidente do Senado, Renan Calheiros, que anunciou a criação de duas CPIs que incomodam o governo
O presidente do Senado, Renan Calheiros, que anunciou a criação de duas CPIs incômodas ao governo

Em um recado ao governo Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou medidas para efetivar a criação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Casa –ambas incômodas ao Planalto.

A criação da CPI dos Fundos de Pensão dependia da indicação de nomes do PT para sua composição –o que foi feito pela legenda na tarde desta quinta-feira (16) depois de mais de dois meses de espera.

"Falta apenas um partido indicar os nomes, com o qual tenho conversado. Se não indicar hoje, eu indicarei, porque há esse compromisso de minha parte", Renan havia afirmado.

O partido fez as indicações após a ameaça do peemedebista. Os nomes dos membros da CPI foram lidos no plenário do Senado nesta quinta. Agora, a comissão precisa realizar a primeira sessão de trabalhos para ser efetivamente instalada.

Entre os integrantes da comissão de inquérito, o governo escalou o líder do PT, Humberto Costa (PE), a ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), o líder do governo no Congresso, José Pimentel (CE). Gleisi é investigada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na Operação Lava Jato. O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), também alvo da operação, fará parte da comissão.

Em abril, o governo conseguiu impedir a criação de CPI semelhante para investigar os fundos de pensão. Em ação orquestrada pelo Palácio do Planalto, convenceu aliados a retirarem assinaturas do pedido de criação. A oposição fez uma nova coleta de assinaturas, o que viabilizou a comissão de inquérito com o apoio do PMDB –partido de Renan e do vice-presidente, Michel Temer.

A oposição quer criar o grupo para investigar uma possível aplicação incorreta dos recursos desses fundos.

Há ainda o movimento para a abertura da CPI do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), para apurar empréstimos do banco a países aliados do governo petista.

A CPI do BNDES já foi protocolada no Senado, mas a instalação ainda depende da leitura pelo presidente da Casa. Nesta quinta, Renan afirmou que fará a leitura no retorno do recesso parlamentar, em agosto.

O anúncio ocorre no mesmo dia em que a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu investigação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suposto tráfico de influência internacional e no Brasil.

Lula é suspeito de usar sua influência para facilitar negócios da empreiteira Odebrecht com governos estrangeiros com o qual firmou contratos financiados pelo BNDES, principalmente em países da África e da América Latina.

OPOSIÇÃO

O anúncio foi elogiado pela oposição e acontece dois dias depois de a Polícia Federal realizar busca e apreensão em imóveis de senadores em Brasília, num desdobramento da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.

"Vossa Excelência cumpre, então, o compromisso assumido", disse o presidente do PSDB, Aécio Neves (PSDB-MG).

Renan apontou o uso de métodos que "beiram a intimidação" na abordagem aos senadores. O presidente do Senado também é investigado na Lava Jato, assim como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ambos atribuem as apurações a uma ação do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). A cúpula do Congresso queixa-se de que o governo Dilma não fez nada para impedir inquéritos contra eles.

Nesta quinta, o empresário Julio Camargo, delator da Lava Jato, disse em depoimento que Cunha lhe pediu propina de US$ 5 milhões em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Tanto o deputado quanto o Planalto esperam uma denúncia contra Cunha nos próximos dias.


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