Folha de S. Paulo


Ex-secretário do Rio usou Panamá para abrir contas

Sergio Lima - 18.nov.2014/Folhapress
Ex-secretário do Rio de Janeiro Rodrigo Bethlem, acusado de corrupção
Ex-secretário do Rio de Janeiro Rodrigo Bethlem, acusado de corrupção

Acusado pelo Ministério Público de ter desviado dinheiro da Prefeitura do Rio, o ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem abriu e movimentou contas na Suíça utilizando o mesmo esquema empregado por investigados na Lava Jato para receber propina no exterior.

Uma das contas foi aberta em nome do presidente da Câmara Municipal do Rio, o vereador Jorge Felippe, ex-sogro de Bethlem.

Conforme revelado pela revista "Época", Bethlem controla cinco contas na Suíça. Quatro delas foram abertas por três offshore. As empresas foram criadas pelo escritório Morgan y Morgan, no Panamá. Tiveram como procuradores José Eugenio Ritter e Dianeth de Ospino.

O mesmo expediente foi adotado pelo ex-ministro José Dirceu e por Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, para abrir empresas naquele país. Barusco admitiu, em delação premiada, que usou suas empresas panamenhas para movimentar dezenas de milhões de reais desviados da estatal.

No processo contra Bethlem, os promotores do Rio apontaram outra conexão entre os dois casos. Dois depósitos nas contas do ex-secretário municipal, que somam US$ 146 mil, foram feitos por Pedro Henrique Mayrink.

Ele é primo do empresário Bernardo Freiburghaus, foragido da Justiça e suspeito de intermediar, na Suíça, o pagamento de propinas da Odebrecht para políticos e ex-dirigentes da Petrobras.

Os extratos das contas movimentadas por Bethlem fazem parte de um inquérito aberto pelo Ministério Público Estadual para investigar o desvio e remessa de dinheiro público para o exterior.

A partir da apuração sobre Bethlem, os promotores esbarraram na conexão com a Lava Jato. Segundo a Folha apurou, uma das linhas de investigação é rastrear outras operações realizadas por Mayrink, o primo de Freiburghaus. Além da Suíça, Mayrink controlaria contas também em Londres e Nova York.

A Morgan y Morgan abriu centenas de empresas no Panamá. O escritório era um canal usado por empresários e políticos brasileiros de diferentes partidos para criar offshore e mandar dinheiro para paraísos fiscais.

Bethlem foi um dos principais secretários do prefeito Eduardo Paes, tendo ocupado as pastas de Assistência Social, Ordem Pública e de Governo. Ex-sogro de Bethlem, Felippe é o principal apoio político a Paes no Legislativo municipal. Os três são do PMDB fluminense.

Já Barusco era homem de confiança de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, indicado pelo PT, também preso na Lava Jato. As duas offshore no Panamá abertas por Barusco, Pexo e Rhea, movimentaram US$ 21,4 milhões desviados no esquema de corrupção.

VALORES

Pelas contas controladas por Bethlem, passaram US$ 710 mil (cerca de R$ 2,2 milhões) entre fevereiro de 2011 e julho de 2014. Até abril do ano passado, Bethlem era secretário da Prefeitura do Rio. Até fevereiro deste ano, era deputado federal pelo PMDB.

Na conta em nome de Jorge Felippe, o presidente da Câmara Municipal, houve um depósito de US$ 154 mil, posteriormente transferido para uma conta de Bethlem.

Conforme revelado pela revista "Época" no ano passado, Bethlem disse a sua ex-mulher, Vanessa Felippe, filha de Jorge Felippe, que recebia R$ 85 mil por mês desviados de um contrato de R$ 9,7 milhões entre uma ONG e a Prefeitura do Rio. A conversa foi gravada por Vanessa. No diálogo, Bethlem também revelou ter conta na Suíça.

OUTRO LADO

Em nota, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), disse que "não tolera qualquer desvio de conduta e reforça o compromisso de combater todo tipo de ilegalidade e de recuperar toda quantia desviada".

O prefeito declarou confiar no trabalho da polícia, do Ministério Público e da Justiça para apurar as denúncias.

A Folha não conseguiu contatar o advogado de Rodrigo Bethlem, Michel Assef Filho. Na única entrevista que concedeu sobre o caso, na semana passada, à TV Globo, Bethlem negou que o dinheiro nas contas por ele movimentadas na Suíça seja de "corrupção ou de ONGs".

"Eu tomei uma decisão em minha vida de sair da política para que eu pudesse me defender na Justiça, pudesse prestar todos os esclarecimentos, para eu demonstrar que eu não enriqueci na política", disse ele à emissora.

Presidente da Câmara de Vereadores e aliado do prefeito, o vereador Jorge Felippe (PMDB) disse, por meio de assessoria, que o depósito feito em sua conta foi cancelado. "Não havendo assim qualquer transferência entre a conta dele e de Bethlem."


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