Folha de S. Paulo


Sem citar Pizzolato, premiê pede a Dilma 'soluções para casos difíceis'

Em sua primeira visita a Itália desde que o governo de Roma autorizou a extradição de Henrique Pizzolato, a presidente Dilma Rousseff ouviu nesta sexta-feira (10) que, com "relações renovadas" entre os países, o governo italiano espera "trazer soluções para os casos mais difíceis" quando se tratar de questões de Justiça.

Sem citar Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil condenado no mensalão, ou Cesare Battisti, que ganhou asilo do governo brasileiro após ser condenado por terrorismo na Itália, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, afirmou que tratou com Dilma sobre "o setor de Justiça" e que espera resultados favoráveis aos interesses de seu país.

"Falamos sobre o setor de Justiça. Espero que essas relações renovadas, baseadas na cortesia, possam trazer solução aos casos mais difíceis, como no caso da Justiça", afirmou Renzi em declaração à imprensa após reunião com a presidente.

Marina Dias/Folhapress
Presidente Dilma Rousseff é recebida pelo premiê italiano, Matteo Renzi, para reunião de trabalho
Presidente Dilma Rousseff é recebida pelo premiê italiano, Matteo Renzi, para reunião de trabalho

O governo italiano fala pouco em Pizzolato mas insiste em ter uma resposta do Palácio do Planalto sobre Battisti.

Na interpretação de diplomatas italianos e brasileiros ouvidos pela Folha, porém, a decisão de extraditar Pizzolato, em abril deste ano, foi um gesto de pragmatismo político para "virar a página" do caso Battisti.

Oficialmente, porém, as discussões sobre esses temas não estavam previstas no encontro de Dilma com as autoridades italianas. Ao lado de Renzi, a presidente não mencionou o assunto em sua declaração de quase dez minutos.

O ex-diretor do Banco do Brasil ainda está preso na Itália e espera decisão final da Justiça –prevista para setembro– após entrar com um recurso para frear o processo. O cenário mais provável é que se arraste ao longo de 2016 em disputa na Corte Europeia de Direitos Humanos.

O governo e a opinião pública italianos, que haviam lamentado a decisão de Lula de dar refúgio a Battisti, tiveram uma reação efusiva em maio deste ano, quando a Polícia Federal prendeu, no Recife, Pasquale Scotti, um dos fugitivos mais procurados da Itália. Seu processo de extradição está em curso no STF e é a principal prioridade dos italianos no campo da cooperação penal internacional com o Brasil.

Scotti, ou "Collier", foi o chefe do braço militar de uma organização criminosa chamada Nova Camorra Organizada, de Nápoles, e a ele são atribuídos 26 assassinatos entre 1980 e 1983. Ele chegou a ser dado como morto por ex-mafiosos, mas vinha vivendo no Brasil desde 1986, sob identidade falsa.

Antes de se reunir com Renzi, Dilma almoçou com o presidente italiano, Sergio Mattarella, no Palácio Quirinale, residência oficial da Presidência da República, e fez uma audiência com José Graziano, diretor-geral da FAO.

Os encontros foram rápidos e, segundo relatos de alguns dos presentes, tratou-se de temas amenos, sem citar Battisti e Pizzolato.

PARCERIA ESTRATÉGICA

Com a visita, os governos de Brasil e Itália esperam retomar a parceria firmada entre os dois países em 2007, considera "estratégica".

Dilma disse que assinou com o governo italiano um plano de ação com 16 pontos, principalmente nas áreas de investimento, cultura, educação, defesa e justiça.

"Nossas relações se darão no mais alto nível entre os ministros, para garantir que ocorram mudanças reais", afirmou a presidente depois de se reunir com Renzi.

Dilma disse ainda que convidou os empresários italianos a participar do programa de concessões para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, recém-lançado no Brasil. Para Dilma, a "parceria excepcional" com os italianos pode se firmar no setor de logística.

Segundo o Itamaraty, a ampliação dos investimentos na aérea de pequenas e médias empresas foi um dos destaques do encontro. Com 1.200 empresas italianas atuando no Brasil, a Itália foi, em 2014, um dos dez principais parceiros comerciais do país.

Além disso, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, Dilma discutiu com as autoridades italianas temas como defesa, educação e mudanças no clima.

Dilma viaja a Milão no fim da tarde desta sexta para, no sábado (11), visitar o pavilhão brasileiro na Expo Milão.

Realizada com dinheiro público mesmo durante a crise que acomete a Itália e diversos países da Europa, a feira foi muito criticada por sindicatos e movimentos sociais, que chegaram a criar um comitê "não à Expo" para protestar contra as cifras bilionárias da exposição que abriga, até outubro, pavilhões de 148 países.

Acompanharam a presidente na viagem a Itália os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) e Jaques Wagner (Defesa), além do assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia.

Colaborou GRACILIANO ROCHA, de São Paulo


Endereço da página:

Links no texto: