Folha de S. Paulo


Dilma libera cargos e verbas para conter crise com PMDB

Kevin Lamarque - 30.jun.2015/Reuters
Dilma ao chegar para entrevista na Casa Branca, nos EUA
Dilma ao chegar para entrevista na Casa Branca, nos EUA

Em busca de conter as ameaças do PMDB de romper com o governo, a presidente Dilma Rousseff deu ao vice-presidente Michel Temer, seu articulador político, carta branca para cobrar de ministros o cumprimento de acordos de liberação de verbas de emendas parlamentares e nomeações para cargos.

Segundo a Folha apurou, Temer, que é presidente do PMDB, relatou a Dilma que um dos principais motivos das últimas derrotas do governo é que os acordos feitos por sua equipe com partidos aliados estavam demorando ou não sendo cumpridos no tempo demandado pelos parlamentares governistas.

O articulador político vem sendo pressionado por correligionários como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a deixar a função por ser alvo de "sabotagem" do PT.

Na conversa com a presidente, Temer disse que não está nos seus planos afastar-se das negociações políticas do Planalto. Nos bastidores, porém, o discurso é de que o vice esperará até agosto para decidir seu futuro caso as demandas de deputados e senadores não sejam atendidas.

Em conversas com assessores, a promessa de Temer é de ajudar Dilma a "tapar os buracos do navio, não abandoná-lo" neste momento.

EQUIPE ECONÔMICA

Para garantir o cumprimento dos acordos com os partidos aliados, Temer fará na segunda-feira (6) reunião com a equipe econômica para fechar um cronograma de liberação de aproximadamente R$ 5 bilhões de verbas para as emendas que os parlamentares aliados apresentaram ao Orçamento da União –R$ 3 bilhões para os deputados antigos, R$ 1 bilhão para os novatos e mais R$ 1 bilhão de recursos de restos a pagar de anos anteriores.

Será cobrada ainda a nomeação de cargos já combinados mas que estão sendo represados por ministros resistentes a cumprir os acordos com os partidos.

Os casos de definição mais atrasada estão sob a alçada dos petistas Arthur Chioro (Saúde) e Juca Ferreira (Cultura) e da peemedebista Kátia Abreu. Nestas pastas, estão em aberto cerca de 30 cargos.

Assessores de Temer vão dizer à equipe econômica que sai mais barato liberar os recursos das emendas do que segurá-las, evitando derrotas em votações estratégicas.

Um deles lembra que "os buracos" criados no projeto que reduz a desoneração da folha de pagamento, parte do ajuste fiscal, são muito mais elevados do que o preço de pagar verbas ao Legislativo.

A aprovação do projeto, que deve render no próximo ano cerca de R$ 10 bilhões aos cofres do governo, está atrasada. Temer quer acelerar o cumprimento dos acordos com os aliados para votá-lo no Senado antes do recesso do Congresso, na segunda quinzena de julho.

Esta é a última medida do ajuste fiscal no Congresso para reequilibrar as contas públicas. Assessores de Temer dizem que, vencida esta etapa, ele vai avaliar com a presidente se ela ainda quer manter o esquema atual de articulação política.

BOMBAS FISCAIS

Dentro do Palácio do Planalto, assessores de Dilma dizem que a intenção da chefe é mantê-lo como articulador político. Afinal, há outros desafios pela frente, como desarmar bombas fiscais criadas por derrotas do governo em votações no Legislativo.

São eles a medida provisória que modifica o fator previdenciário, o projeto que estende a todos as aposentadorias o aumento real do salário mínimo e o aumento salarial para o Judiciário. Só este último elevaria os gastos federais em R$ 25,7 bilhões em quatro anos.


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