Folha de S. Paulo


Possível saída de Cardozo gera mal-estar no Planalto

Pedro Ladeira - 1º.jul.2015/Folhapress
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante coletiva de imprensa
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante coletiva de imprensa

Os sinais enviados pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de que está cansado e de que cogita deixar o governo causaram mal-estar no Palácio do Planalto.

Ministros dizem que o momento de crise política é "muito ruim" para a saída de Cardozo e que é melhor construir sua despedida para o próximo ano, até a Olimpíada.

Os auxiliares de Dilma, porém, reconhecem que não será fácil segurar um ministro com vontade pública de deixar o cargo, mas a aposta majoritária é por sua permanência, ao menos por ora.

Até o início da noite desta quarta-feira (2), após a chegada da presidente de sua viagem aos Estados Unidos, Cardozo ainda não havia conversado pessoalmente com Dilma e avaliava como desenvolveria sua possível demissão.

A Folha revelou que, após quatro anos e seis meses à frente do Ministério da Justiça, Cardozo confidenciou a amigos que quer sair do cargo. Desde o fim do ano passado, o ministro já dava sinais de esgotamento, mas, a pedido de Dilma, permaneceu na pasta devido à turbulência da Operação Lava Jato.

A situação, porém, se agravou com pressões de dirigentes petistas, que reivindicam sua saída justamente porque a Lava Jato avança sobre os principais expoentes do PT.

A Polícia Federal, que investiga o esquema de desvio de recursos na Petrobras, é subordinada ao ministro. Petistas argumentam que Cardozo não tem controle sobre a operação.

A avaliação no Planalto e também entre os policiais federais é que a saída de Cardozo neste momento, cedendo às pressões do PT, passaria a impressão de que o governo tenta controlar a PF, o que abriria uma verdadeira guerra na corporação.

Parte de seus interlocutores desconfia da real intenção do ministro de deixar o cargo e dizem que Cardozo busca, na verdade, um afago de Dilma para permanecer no governo fortalecido.

Desde os novos desdobramentos da Lava Jato, a relação entre o ministro e a presidente tem piorado, com discussões e cobranças cada vez mais enfáticas.


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