Folha de S. Paulo


Dilma diz que não demite ministro via imprensa e que só se condena com provas

Michael Reynolds/Efe
A presidente Dilma Rousseff dá entrevista em Washington ao lado do presidente Barack Obama
A presidente Dilma Rousseff dá entrevista em Washington ao lado do presidente Barack Obama

Em viagem aos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff criticou nesta terça-feira (30) o que chamou de "vazamento seletivo" de informações das investigações da Operação lava Jato, que recentemente envolveu doações para dois de seus ministros, Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Edinho Silva, da Secom.

Ambos foram citados em depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, delator na investigação que apura um esquema de corrupção na Petrobras.

Em coletiva à imprensa ao lado do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, indagada se iria manter os ministros, Dilma começou dizendo que não demitia nem nomeava ministros pela imprensa.

E depois atacou as delações e vazamentos seletivos. "O governo brasileiro não tem acesso aos autos, estranhamente, há um vazamento seletivo e alguns têm", disse. "Aqueles que são mencionados não têm como se defender porque não sabem do que são acusados."

Em delação premiada, Pessoa disse que doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma por temer prejuízos em seus negócios com a Petrobras. O montante foi doado legalmente. Pessoa disse que tratou da contribuição diretamente com o tesoureiro da campanha de Dilma à época, Edinho Silva.

Como a Folha informou nesta sexta (26), Pessoa também detalhou em um de seus depoimentos a maneira como foi negociada uma contribuição feita à campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo do Estado de São Paulo, em 2010. Segundo a prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral, Mercadante recebeu uma doação de R$ 250 mil da UTC em 2010.

Pessoa disse haver outra doação, feita no caixa dois, no mesmo valor. A prestação de contas de Mercadante registra outros R$ 250 mil, mas legais, vindos da Constran, empresa do grupo de Pessoa.

Segundo Dilma, no Brasil, que veio de uma ditadura, "é preciso ter o maior respeito pelo direito de defesa " e "só se condenar quando se provar".

"Esse é o princípio básico da civilização ocidental que nós compartilhamos."

Ainda de acordo com a presidente, existe obrigação de a prova "ser formada com fundamentos e não simplesmente com ilações ou sem acesso às peças acusatórias". "Isso é um tanto quanto Idade Média."

RESPEITO

Nesta segunda, em Nova York, Dilma disse que "não respeita delator" e negou que tenha recebido dinheiro ilícito em sua campanha.

"Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos."

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta terça que delações premiadas como as de empreiteiros da Lava Jato servem apenas como "guia de investigação", e que reações como a da presidente Dilma Rousseff são "legítimas".

Para Cardozo, "um delator pode falar verdades, meias verdades ou mentiras, e tudo para conseguir benefícios".

"É um guia para a investigação, não um guia de verdades", afirmou o ministro, que saiu em defesa da presidente.

"Qualquer pessoa que tem a honestidade intrínseca que Dilma Rousseff tem reage com indignação", disse. "É a reação legítima daqueles que são honestos e preservam sua honestidade", completou.

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QUEM O EMPREITEIRO ACUSOU

Os políticos citados por Ricardo Pessoa, da UTC, em seus depoimentos na Lava Jato

QUEM O que pessoa diz ter pago Doação oficial, segundo o TSE * A ACUSAÇÃO OUTRO LADO
Dilma Rousseff (PT) R$ 7,5 milhões R$ 7,5 milhões Pessoa diz que doou para preservar negócios da UTC com a Petrobras, por pressão do então tesoureiro da campanha à reeleição da petista, Edinho Silva Afirma que doações foram legais e espontâneas, e que o candidato da oposição também recebeu da UTC
Lula (PT) R$ 2,4 milhões R$ 1,2 milhões Comitê de campanha de Lula em 2006 recebeu R$ 2,4 milhões via caixa dois O PT afirma que todas as doações ao partido foram legais
João Vaccari Neto (PT) R$ 4 milhões - Dinheiro foi repassado ao ex-tesoureiro, entre 2011 e 2013, por caixa dois Doações recolhidas para o PT são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral
José Dirceu (PT) R$ 3,1 milhões - Pagamentos por serviços de consultoria de Dirceu eram parte da propina acertada com Vaccari Serviço contratado, de prospecção de negócios para a UTC fora do Brasil, foi prestado
Fernando Haddad (PT) R$ 2,4 milhões R$ 1 milhão ao comitê municipal de São Paulo Repasses a pedido de Vaccari foram feitos para quitar dívida de campanha em 2012 Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral
José de Filippi (PT) R$ 750 mil R$ 150 mil Dinheiro além da doação oficial foi repassado via caixa dois para a sua campanha a deputado em 2010 Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral
Aloizio Mercadante (PT) R$ 250 mil R$ 500 mil UTC fez doação à sua campanha de 2010 ao governo de SP, sendo metade em dinheiro vivo Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral
Luiz Sérgio (PT) R$ 200 mil R$ 200 mil Doação em 2014 em troca de apoio junto ao movimento sindical, para evitar paralisações em obras da UTC Nega acusação de que doações eram atreladas a apoio
Renan Filho (PMDB) R$ 1 milhão R$ 1 milhão Ajudou o governador de Alagoas, filho de Renan Calheiros, na campanha de 2014 Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral
Edison Lobão (PMDB) R$ 1 milhão R$ 450 mil em 2010 ao diretório nacional do PMDB Pagou propina ao senador quando ele era ministro de Minas e Energia, no primeiro mandato de Dilma Rechaça a acusação e diz que não há prova
Sergio Machado (PMDB) R$ 1 milhão - Pagos em retribuição por favores quando Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da Petrobras Nega acusações
Fernando Collor (PTB) R$ 20 milhões - Pagos entre 2010 e 2012 em troca da influência do senador em negócios com a BR Distribuidora Nega acusações
Gim Argello (PTB) R$ 5 milhões - Pagos em 2014 para enterrar uma CPI da Petrobras por meio de doações oficiais ao PR, DEM, PMDB e PRTB Doações recebidas foram declaradas à Justiça Eleitoral
Ciro Nogueira (PP) R$ 2 milhões R$ 600 mil em 2010 ao diretório nacional do PP Recebeu dinheiro da UTC Não se manifestou
Arthur Lira (PP) R$ 1 milhão - Recebeu dinheiro da UTC Doações são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral
Benedito de Lira (PP) R$ 400 mil R$ 400 mil Recebeu dinheiro da UTC Doações são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral
Dudu da Fonte (PP) R$ 300 mil R$ 100 mil em 2010 ao diretório do PP-PE Valor foi pago em troca da indicação da UTC para uma obra Não se manifestou
Aloysio Nunes (PSDB) R$ 500 mil R$ 300 mil Doou R$ 300 mil em 2010 pelas vias oficiais e o restante foi entregue via caixa dois Diz ter recebido apenas doações oficiais e nega influência na Petrobras
Paulinho da Força (SD) R$ 500 mil R$ 500 mil Doação em 2012 em troca de apoio junto ao movimento sindical, para evitar paralisações em obras da UTC Nega acusação de que doações eram atreladas a apoio
Valdemar Costa Neto (PR) R$ 200 mil R$ 300 mil em 2010 ao diretório nacional do PR Não constam doações do empresário à campanha do ex-deputado Não se manifestou
Júlio Delgado (PSB) R$ 150 mil R$ 150 mil em 2014 ao PSB-MG Recebeu valor vindo da propina acertada com Gim Argello para enterrar CPI em 2014 Repudia acusações e diz que contas eleitorais foram entregues à Justiça

Doações da UTC em 2014 por partido (inclui a Constran, do mesmo grupo):

  • PT - R$ 22,3 milhões
  • PSDB - R$ 9,2 milhões
  • DEM - R$ 4,8 milhões
  • PMDB - R$ 3,9 milhões
  • Outros - R$ 14,4 milhões

* Dados de 2014, 2012 e 2010 | Fonte: TSE e Transparência Brasil


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