A Oli Comunicação, que pertence a Carolina Oliveira, mulher do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), recebeu pagamentos milionários de empresas que firmaram contratos com o BNDES, segundo a Polícia Federal.
Parte dos repasses ocorreu entre 2012 e 2014, período em que Pimentel era ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC)–pasta à qual o BNDES é vinculado.
As transações financeiras foram identificadas pela PF em investigação da Operação Acrônimo, que apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o empresário Benedito Rodrigues, o Bené, amigo pessoal do governador de Minas.
As informações estão na decisão do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Herman Benjamin que autorizou a segunda etapa da operação, deflagrada nesta quinta-feira (25) e antecipada pela Folha, e que teve como alvo uma empresa que já pertenceu a Pimentel e a agência de comunicação Pepper, que executa a comunicação do PT nas redes sociais e é responsável pela página não oficial de Dilma Rousseff no Facebook.
Na representação enviada à Justiça, a PF informou que a Oli Comunicação e empresas que trabalhavam em parceria com a de Carolina receberam cerca de R$ 3,6 milhões entre 2011 e 2014.
R$ 2,4 MI
Nos pedidos de busca e apreensão feitos à Justiça, a PF sustenta que parte dos pagamentos "poderiam ter, em última análise, como destinatário o então ministro de Estado titular do MDIC".
A PF aponta os grupos Marfrig e Casino (controlador do Pão de Açúcar) como autores de repasses de R$ 595 mil e R$ 362,8 mil, respectivamente.
A defesa de Carolina e Pimentel esclarece que essas transferências não foram para a Oli Comunicação, mas sim para a MR Consultoria, empresa de Mário Rosa, estrategista de imprensa e consultor de crise. A polícia também fez busca e apreensão na casa de Rosa nesta quinta.
A Oli e a MR, entretanto, assinaram contratos de prestação de serviço, segundo a PF.
Diz a PF que, com base nos documentos apreendidos, "é dedutível que a MR Consultoria fez pagamentos, desde o ano de 2012 e até 2014, à Oli Comunicação, em contraprestação a supostos serviços de consultoria de comunicação/imprensa, num total de R$ 2,4 milhões".
Outra empresa que fez repasses à Oli foi a Pepper Comunicação Interativa, empresa que presta serviços de mídia digital para o PT nacional e que foi contratada pela campanha de Dilma Rousseff, em 2010, por R$ 6,5 milhões para criar e incluir páginas na internet.
No ano passado, a Pepper também fez a campanha de Renan Filho (PMDB-AL) ao governo de Alagoas, faturando R$ 100 mil.
Por meio de nota, a assessoria da Pepper informou que a empresa deu acesso aos documentos requeridos e que continuará à disposição das autoridades para prestar todas as informações necessárias.
A Marfrig, por meio da assessoria de imprensa, informou que não "efetuou pagamento à Oli Comunicações". Diz que desconhece as investigações e, por isso, não pode comentar o assunto. Questionada, a empresa não respondeu, porém, se fez algum depósito à MR Consultoria.
VIAGEM DE LUXO
A PF suspeita ainda que Bené tenha bancado uma viagem a um resort de luxo, na Bahia, para Pimentel e Carolina, em 2013. O empresário pagou R$ 12,7 mil para o casal passar três dias no Kiaroa-Eco Luxuri, na cidade baiana de Maraú.
As investigações apontam que Bené foi quem fez a reserva para Pimentel e Carolina ficarem hospedados no resort entre os dias 15 e 17 de novembro.
"É provável que Benedito tenha pago a hospedagem e a viagem em avião particular para o então ministro Fernando Pimentel", sustenta a PF em documento enviado à Justiça.