Folha de S. Paulo


Executivo próximo a Lula nega pagamento de propinas

Um dos principais articuladores das conexões do grupo Odebrecht com políticos entre 2004 e 2015, o executivo Alexandrino de Salles Ramos Alencar voltou a negar à Polícia Federal que tenha participado de negociações envolvendo o pagamento de propina a ex-dirigentes da Petrobras e a operadores do mundo político.

Acompanhante do ex-presidente Lula em viagens internacionais, Alexandrino foi preso na última sexta (19), quando foi deflagrada a fase Erga Omnes da Operação Lava Jato. Nesta terça (23), o juiz Sergio Moro prorrogou por 24 horas a prisão temporária dele.

O novo depoimento foi dado na segunda-feira (22) e Alexandrino voltou a confirmar que recebia Rafael Ângulo López em seu escritório na sede da Odebrecht, mas negou que tenha informado números de contas secretas no exterior ao emissário do doleiro Alberto Youssef.

Uma das principais alegações da Polícia Federal contra os executivos da Odebrecht é que a empreiteira operou um sofisticado esquema de distribuição de subornos em contas na Europa e na Ásia. Alexandrino alegou desconhecer empresas offshore que a PF diz serem controladas pela Odebrecht que realizaram pagamentos nas contas dos ex-diretores da Paulo Roberto Costa e Renato Duque na Suíça e em Mônaco.

A versão de Alexandrino é que os encontros com Ângulo López foram para entregar documentos relativos a doações de campanha ou para receber informações do ex-deputado José Janene (PP-PR) sobre políticos que deveriam receber doações.

Logo depois do depoimento à PF, Alexandrino pediu demissão do cargo de diretor de desenvolvimento da Odebrecht Infraestrutura para "se dedicar integralmente" à sua defesa. A Polícia Federal queria a conversão da prisão de Alexandrino de temporária (cujo prazo expirou na terça) em preventiva, mas o juiz Sergio Moro não acatou o requerimento.

PROXIMIDADE COM JANENE

No depoimento da segunda, Alexandrino detalhou seu relacionamento com o então deputado José Janene (PP-PR), apontado como o mentor do esquema de distribuição de propina na diretoria de Abastecimento da Petrobras.

Foi Janene o padrinho político de Paulo Roberto Costa no cargo da estatal em 2004, de acordo com o próprio Costa e o doleiro Youssef, principais delatores da Lava Jato.

Por volta de 2002, quando ainda era vice-presidente de relações institucionais da Braskem (braço petroquímico da Odebrecht), Alexandrino diz ter procurado o então deputado Janene, à época influente presidente da comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, para discutir o apoio do congressista à indústria do plástico.

Na versão de Alexandrino, eles se afastaram em 2005, quando o escândalo do mensalão abateu Janene, que teve o mandato cassado. Eles reatariam em 2007, quando, mesmo sem mandato, Janene ainda continuava muito influente no PP.

Alexandrino contou que costumava ir ao apartamento do deputado cassado em São Paulo para discutir em quais candidaturas a Odebrecht deveria injetar dinheiro. O doleiro Alberto Youssef, segundo o executivo, costumava participar com frequência destas reuniões.

NAFTA

A versão de Youssef sobre a aproximação de Alexandrino e Janene envolveu uma negociação para que o congressista usasse seu peso político para fazer a Petrobras vender nafta -principal insumo da cadeia produtiva do plástico -a preços vantajosos para a Braskem.

Segundo o doleiro e agora delator, Janene recebeu um suborno de US$ 5 milhões pelo favor. Era a diretoria de Paulo Roberto Costa que comercializava a nafta.

Alexandrino disse à PF que a versão do doleiro é falsa. Ao afirmar que a Braskem nunca teve uma relação vantajosa na compra de insumos da Petrobras, o executivo disse que em 2014 a estatal teve de devolver dinheiro à petroquímica por ter cobrado valores indevidos.

O preço pago pela Braskem pela nafta é uma das contradições entre os depoimentos de Alexandrino e de Paulo Roberto Costa, também prestado na segunda: o primeiro diz que a Petrobras praticava o preço de referência internacional (ARA), enquanto o segundo afirma que o valor cobrado pela estatal nem sempre acompanhava o praticado em outros países.

Chamado a depor para explicar os negócios com nafta, o ex-diretor de Abastecimento confirmou parcialmente a versão de Youssef. Segundo ele, a Braskem pagou entre US$ 3 e 5 milhões por ano, entre 2006 e 2012, como suborno para ter a tramitação da compra do insumo acelerada pela estatal.

Segundo Costa, em pelo menos uma ocasião, onde ele se encontrava com Janene e Alexandrino, o tema da propina foi tratado abertamente.


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