Folha de S. Paulo


Mais antigo, mensalão tucano segue impune

Com investigações que começaram há mais de dez anos e processos na Justiça há cinco, o mensalão tucano não tem sentença e alguns de seus réus aguardam julgamento em cargos de prestígio.

O caso, considerado um "embrião" do mensalão petista, consiste na suspeita de desvios de R$ 3,5 milhões (R$ 13,5 milhões, corrigidos) de empresas públicas mineiras por meio de agências de publicidade. Objetivo: financiar a fracassada campanha à reeleição do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998.

Um dos réus é o próprio Azeredo. Sua ação é a mais adiantada entre as três que tramitam na 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte –a juíza precisa apenas dar a decisão.

Outros nove respondem por peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro. Há três condenados e presos pelo mensalão petista: os publicitários Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz são acusados de usar suas empresas para lavar dinheiro por meio de empréstimos fraudulentos.

Quando a denúncia foi aceita, eram 12 réus, mas dois ficaram impunes. Walfrido dos Mares Guia e Claudio Mourão foram beneficiados com a prescrição ao completar 70 anos e não serão mais julgados. O prazo para que eles fossem julgados caiu de 16 para 8 anos, maior que o ocorrido entre o fato (1998) e a apresentação da denúncia (2007).

RENÚNCIAS

Em março, Azeredo foi contratado como diretor executivo da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas) por um salário de R$ 25 mil.

Ele havia renunciado ao cargo de deputado federal no início de 2014 para que seu processo, que tramitava no STF, voltasse à primeira instância –que permite um número maior de recursos.

No mesmo ano, Clésio Andrade (PMDB-MG), que foi candidato a vice de Azeredo em 98, renunciou ao cargo de senador. Réu de ação individual, ele preside a CNT (Confederação Nacional do Transporte). No processo de Clésio, ainda falta ouvir o réu e as testemunhas de defesa.

SECRETÁRIO

O terceiro processo, com os outros oito réus, estava na 9ª Vara, mas foi enviado ao Tribunal de Justiça de Minas depois que um dos acusados foi nomeado secretário da Fazenda pelo governador Fernando Pimentel (PT) e passou a ter foro privilegiado. José Afonso Bicalho presidiu o Bemge (antigo banco estatal) e é acusado de liberar verba para as empresas de Valério.

A Corte deve decidir se fica apenas com o caso de Bicalho ou se julga tudo.

Em 2018, Bicalho e Azeredo completam 70 anos.

OUTRO LADO

Todos os réus sempre negaram as acusações feitas pela Procuradoria.

A defesa de Eduardo Azeredo diz que ele não respondia por questões financeiras da campanha e não deu anuência aos empréstimos que teriam originado a lavagem de dinheiro.

O advogado de Clésio Andrade, Eugênio Pacelli de Oliveira, diz que a denúncia é um "equívoco" e que o empresário, que foi sócio de Marcos Valério, saiu da sociedade "muito antes" da investigação da Procuradoria.

O representante legal de José Afonso Bicalho, Leonardo Bandeira, afirma que seu cliente "não tem participação nenhuma nos fatos" e que qualquer irregularidade "não era de conhecimento dele".

Editoria de Arte/Folhapress

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