Folha de S. Paulo


Investigação que cita Richa dá origem a outros dois casos

Suspeito num esquema de corrupção no Paraná, um auditor fiscal levou os investigadores à descoberta de um outro crime: uma rede de servidores e empresários para exploração sexual de menores.

Em seguida, um dos envolvidos no novo caso acabou ajudando na apuração de uma fraude numa licitação de veículos oficiais, vencida por um homem que se apresentava como primo do governador Beto Richa (PSDB).

Chefiadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime), as três investigações se cruzam, misturando sexo, corrupção e pessoas muito próximas a Richa.

A Operação Publicano, a dos auditores, é a mais robusta. Os auditores, diz o Gaeco, escolhiam uma empresa para ser "trabalhada". Avisavam sobre dívidas tributárias e ameaçavam com multas altíssimas. Ofereciam, então, uma saída: propina. "Os que não aceitavam [pagar] recebiam retaliações. Quem aceitava não era autuado, ou recebia uma multa bem menor", afirma o promotor Jorge Barreto.

Os valores variavam conforme o porte da firma, podendo passar de R$ 300 mil. Há ao menos 62 envolvidos, entre auditores e empresários.

Um dos envolvidos, Luiz Antônio de Souza, deu início a outro caso. Grampeado, descobriu-se que ele também atuava numa rede de exploração sexual infantil. Ele foi preso em flagrante no motel com uma menina de 15 anos.

Nesse caso, que envolvia meninas de 13 a 17 anos, há 18 inquéritos concluídos e outros seis em curso. "São situações que envolvem pessoas consideradas acima de qualquer suspeita, conhecidas na cidade", diz o delegado Alan Flore. O caso corre em segredo.

CAMPANHA

Em delação, Souza disse que o esquema dos auditores abasteceu a campanha de Richa à reeleição com ao menos R$ 2 milhões. O tucano nega. Chama de calúnia as denúncias que envolvem seu nome.

Barreto, o promotor, diz que as investigações estão no início e que não é possível dizer se Richa sabia das fraudes.

Além de Souza, só a auditora Ana Paula Lima continua presa. Ela é mulher de Márcio de Albuquerque Lima, ex-companheiro de corrida de Richa e ex-chefe de fiscalização do fisco, citado como líder do esquema.

Também a partir da Publicano surgiu a Operação Voldemort, referência ao vilão dos livros de Harry Potter, cujo nome, amaldiçoado, não podia ser falado. O pivô é o empresário Luiz Abi Antoun, primo de Richa (o tucano diz que o parentesco é distante).

Ele é acusado de formar organização criminosa, de falsidade ideológica e de fraudar licitação. De acordo com a denúncia, o grupo desviou recursos ao obter ilegalmente contratos para a a manutenção de carros oficiais. Ninguém está preso.

Antoun, diz o Gaeco, montou uma firma de fachada e obteve uma contratação emergencial de R$ 1,5 milhão para o serviço. Oito pessoas foram indiciadas, entre elas o empresário Paulo Midauar, um dos envolvidos na Publicano.

O fotógrafo Marcelo Caramori, ex-assessor de Richa e que chegou a ser preso na operação de exploração sexual, afirmou que Antoun era o responsável pela arrecadação de dinheiro das campanhas de Richa. O governador e o PSDB negam.

'IMPEACHMENT'

As denúncias surgem em meio a uma crise política de Richa. Nesta segunda (25), advogados e professores universitários protocolaram na Assembleia Legislativa um pedido de impeachment do governador, baseado na ação policial que deixou quase 200 feridos numa manifestação contra o tucano.

Eles responsabilizam Richa pelo ato e sustentam que ele incorreu em crime de responsabilidade, por atentar contra o exercício dos direitos políticos pela população.

O pedido ainda será analisado pela procuradoria da Assembleia, que vai verificar sua procedência legal. O órgão pode arquivá-lo ou levá-lo à votação no plenário. São necessários os votos de dois terços dos deputados para aprovar o impeachment.

OUTRO LADO

O advogado de Luiz Antônio de Souza, Eduardo Duarte Ferreira, disse que seu cliente não manteve relações sexuais com a garota de 15 anos: foi preso antes disso e, portanto, não houve crime.

Ele não quis falar sobre as acusações de envolvimento de Souza na rede de exploração sexual infantil, pois o caso está sob segredo de Justiça. Mas admite que o cliente fazia parte do esquema de fraude na Receita estadual.

O advogado de Luiz Abi Antoun, Antônio Carlos Mendes, disse que seu cliente não falará sobre as acusações envolvendo a Operação Voldemort.

O advogado do fotógrafo Marcelo Caramori, Leonardo Vianna, disse que seu cliente assumiu a responsabilidade em relação às denúncias de exploração sexual.

Os defensores de Márcio de Albuquerque Lima, de Ana Paula Lima, do empresário Paulo Midauar e do auditor José Luiz Favoreto Pereira não foram localizados.

Editoria de Arte/Folhapress

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