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Verdade é pior do que empresas estão dispostas a assumir, diz empreiteiro

Pedro Ladeira/Folhapress
Dalton Avancini, da Camargo Corrêa, durante depoimento à CPI da Petrobras nesta quarta (20)
Dalton Avancini, da Camargo Corrêa, durante depoimento à CPI da Petrobras nesta quarta (20)

O ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, que firmou acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira (20) à CPI da Petrobras que as outras empresas envolvidas no esquema de corrupção não estão dispostas a assumir a verdade.

Avancini respondeu isso ao ser questionado sobre as acusações da Odebrecht de que as acusações contra a empresa feitas pelos delatores da Camargo Corrêa se tratavam de "vingança concorrencial".

"Ao assinar um termo de colaboração, eu me comprometi a dizer essencialmente a verdade. Apontar a verdade sobre o fato dessas concorrências [serem combinadas previamente], essas empresas estão envolvidas e infelizmente a verdade é um pouco mais dura do que o que elas estão hoje dispostas a assumir", afirmou.

Ele citou que a Camargo já teve sociedades e também já foi concorrente da Odebrecht, como de outras empreiteiras. "Não tenho sentimento de vingança contra a Odebrecht nem contra outras empresas do mercado. Eu respeito todas essas empresas, até pouco tempo atrás eram parceiras no mercado", disse Avancini.

Avancini definiu como "profundo arrependimento" seu sentimento em relação à participação na corrupção e disse lamentar por não ter tido "a coragem e a força para romper com um processo que acontecia".

O ex-presidente confirmou à CPI as declarações dadas em sua delação premiada, mas só foi autorizado a falar sobre a Petrobras. Isso porque as denúncias de corrupção em outras áreas ainda estão sob investigação da Polícia Federal. Petistas tentaram fazê-lo falar sobre o envolvimento de governos tucanos, mas ele afirmou que não poderia dizer nada.

Questionado, Avancini afirmou que não tinha relacionamento com os políticos investigados pelo envolvimento no esquema de corrupção e que isso era feito por outras áreas da empresa.

CONTRADIÇÃO

Ele contradisse declaração do outro delator da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, de que a empresa havia feito doações ao PT a pedido do tesoureiro João Vaccari Neto como pagamento de propina.

"A Camargo não fez essa doação. Não era prática da Camargo fazer doação como pagamento de propina", afirmou Avancini. Ele, porém, deixou claro que quem cuidava mais diretamente da operacionalização da propina era Leite, embora também tivesse conhecimento.

O relator Luiz Sérgio (PT-RJ) questionou ao executivo se os valores das propinas eram embutidos no orçamento das obras, ao que recebeu resposta positiva.

Avancini afirmou que, caso não houvesse as propinas, os custos das obras poderiam ter sido mais baratos, ainda que não ultrapassassem o limite de custo estabelecido pela Petrobras.

"Os valores que se atribuem como propina eram incluídos dentro desse preço [da obra]. Quando se fala de superfaturamento, esse valor realmente estava dentro do preço, então pode ser tratado como superfaturamento", disse.

O depoimento de Avancini foi encerrado por volta das 20h. Em suas considerações finais, ele afirmou que "em momento algum acho que fomos simplesmente vítimas" de extorsão no esquema da Petrobras.


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