Folha de S. Paulo


Congressistas pressionam Dilma a rever aperto fiscal

Pedro Ladeira - 18.mai.2015/Folhapress
Dilma discursa no Planalto, sob os olhares do ministro Joaquim Levy (Fazenda), em evento
Dilma discursa no Planalto, sob os olhares do ministro Joaquim Levy (Fazenda), em evento

Congressistas do PMDB e do PT buscam, nos bastidores, uma forma de reduzir a meta de aperto fiscal fixada para este ano pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A medida poderia reduzir em até R$ 20 bilhões os cortes de despesas e aumentos de impostos que o governo Dilma Rousseff precisa fazer.

A proposta em articulação prevê que o superavit primário –a poupança destinada ao abatimento da dívida pública– a ser atingido cairia de 1,1% para 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto). Em valores absolutos, a meta cairia de R$ 66,3 bilhões para algo próximo de R$ 46 bilhões.

Para petistas e peemedebistas, o objetivo estabelecido por Levy é impossível de realizar. O ceticismo é compartilhado pela maior parte dos analistas de mercado.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concorda com a tese, embora a articulação não tenha chegado ainda à sua mesa.

Editoria de Arte/Folhapress

"O mercado quer é saber se o governo está indo na linha certa, não acertar o número da loteria. Se o governo fizer primário de 0,8% este ano e 1% no ano que vem, é melhor do que fazer 1,2% este ano e 1% em 2016", disse à Folha.

Como, por ora, o Ministério da Fazenda não pode ouvir falar em redução do esforço fiscal, integrantes da base política de Dilma querem alterá-la por meio de votação no Congresso Nacional.

O plano é fazer a mudança por meio da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2016, que definirá os objetivos e prioridades da administração pública para o ano. Técnicos do Senado afirmam que a manobra é possível, mesmo a meta sendo a deste ano.

Trata-se de uma ameaça que ainda não havia entrado no radar Ministério da Fazenda, contrário a qualquer mexida nesse sentido.

Por ora, a operação corre à revelia do Palácio do Planalto, mas a expectativa do grupo que defende a redução é de que o governo se convença, em algumas semanas, a apoiar a medida por simples falta de opção.

Até lá, Dilma precisa concluir a votação do pacote fiscal, projeto para sanear as contas do Executivo, e anunciar o tamanho do corte que fará nas despesas para cumprir a meta de 1,1% do PIB.

MAIS SUOR

Os patrocinadores da mudança da meta argumentam que, como houve um deficit primário de 0,6% em 2014, o esforço fiscal para chegar a 1,1% em 2015 será maior, equivalente a 1,7%, pois parte de uma base negativa. E, sair do negativo, é ainda mais sofrido para quem precisa juntar dinheiro.

"O governo vai cair na real. Tem um 'delay' [atraso]. Isso vai acontecer a partir de junho", disse um importante representante do PMDB, sob condição do anonimato.

Estudos feitos por consultores do Congresso mostram que uma economia dessa magnitude teria potencial para agravar o quadro de recessão –o mercado prevê encolhimento de 1,2% do PIB este ano, conforme o relatório Focus, do Banco Central.

O Ministério da Fazenda pensa diferente, e só vê condições de retomada do crescimento se as medidas de arrocho atingirem a meta plena.

De olho nesse objetivo, Levy levou para a presidente Dilma uma proposta de cortar mais de R$ 70 bilhões em despesas do governo, incluindo programas sociais. O tema, tampouco o patamar, não é consenso na Esplanada.

A ala mais política do governo pressiona por um corte próximo a R$ 60 bilhões para evitar uma paralisia do governo federal.

O PT deve entrar na disputa pelo primário menor com mais ênfase nos próximos dias. As correntes mais à esquerda do partido começam a produzir posicionamentos contra o tom do ajuste.


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