Folha de S. Paulo


Governo e oposição registraram traições em votação de ajuste

"Nem o papa tem 100% de apoio." Essa foi a avaliação do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), sobre as traições generalizadas nos partidos da base, o que ameaça a aprovação dos pontos restantes do pacote de ajuste.

Proporcionalmente, as principais defecções governistas ocorreram no PDT do ministro do Trabalho, Manoel Dias, que deu todos os seus 19 votos contra o projeto de Dilma, no PTB (12 dos 24 votos) e no PP (18 dos 39 votos).

"Houve insatisfação com o governo, claro, mas defendíamos o adiamento da votação, a bancada não estava pronta para votar", afirmou o líder do PP, Eduardo da Fonte (PE). Ele negou que a insatisfação tenha a ver com o atraso da entrega de cargos ao partido.

"Parte da bancada ficou com o governo, mas preferimos ficar com o estatuto do partido, de defesa do trabalhador", afirmou a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ).

O PMDB, que ameaçou abandonar a defesa do projeto, registrou 13 traições no total de 64 votos. "Foi o que esperávamos. Agora o governo tem que continuar conversando para evitar derrotas daqui pra frente. Tem que ver esses dez do PT que não votaram, por exemplo", afirmou o líder da bancada do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).

No partido de Dilma, nove deputados da bancada se ausentaram. Dos 55 presentes, só Weliton Prado (MG), deputado de pouca expressão na bancada, votou contra o governo. A Folha não conseguiu falar com ele nesta terça.

OPOSIÇÃO

Com exceção do PSDB, que votou unido contra Dilma, a oposição também registrou traições.

A mais inusitada aconteceu com o DEM, partido que faz ataques ferrenhos ao governo e ao ajuste fiscal. Oito integrantes da bancada, de um total de 22 que votaram, apoiaram a proposta do governo.

Entre eles Rodrigo Maia (RJ) e José Carlos Aleluia (BA), dois dos principais críticos do Palácio do Planalto.

"Houve nesse grupo uma razão mais ideológica, na linha de corrigir imperfeições na atual política", afirmou o líder da bancada do partido, Mendonça Filho (PE).

A Folha apurou que o grupo de infiéis do DEM se reuniu com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em uma articulação que contou com o apoio do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).


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