Folha de S. Paulo


Dilma teme sofrer mais derrotas com briga Cunha-Renan

Preocupada com o impacto dos atritos entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na votação do ajuste fiscal, a presidente Dilma Rousseff orientou sua equipe a evitar tomar partido na disputa e tentar acalmar os ânimos no Congresso.

Dilma tocou no tema durante visita a Xanxerê (SC) nesta segunda (27). Ela disse que há uma "mania no Brasil de procurar conflito extraordinário onde não tem conflito extraordinário".

Buscando minimizar a briga travada entre os dois peemedebistas, ela disse ser natural "diferenças de posição" numa democracia e que, por isso, "ninguém aqui tem de pensar igualzinho aos outros". Afirmou que o importante "é que o PMDB integra a base do meu governo, o vice-presidente [Michel Temer] é do PMDB e, nesse sentido, o governo tem uma unidade".

Na semana passada, o Planalto escalou emissários para conversas com os dois lados. O temor é de que, com o governo fraco, a guerra entre as duas figuras mais influentes do PMDB imponha ainda mais derrotas à presidente.

Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma observa estragos em Xanxerê (SC) após tornado
Dilma observa estragos em Xanxerê (SC) após tornado

Em tempos menos críticos que o momento atual, o Executivo por vezes apostou na divisão do PMDB para tentar se beneficiar das disputas internas no partido.

Agora, porém, as circunstâncias não permitem a mesma estratégia, pois uma das vítimas da cisão pode ser a própria Dilma.

O conflito entre Renan e Cunha se intensificou após o senador se posicionar contra o projeto aprovado na Câmara que amplia a terceirização, sinalizando uma tramitação lenta do tema no Senado.

Segundo Renan, a Casa não aprovaria uma terceirização "ampla, geral e irrestrita" e não permitiria uma "pedalada contra o trabalhador".

Um dos principais responsáveis pela aprovação do projeto, Cunha reagiu ameaçando engavetar propostas vindas do Senado. "Pau que dá em Chico dá também em Francisco", disse, sugerindo que poderia segurar, por exemplo, o projeto que convalida benefícios fiscais concedidos por Estados, que é de interesse do governador de Alagoas e filho do senador, Renan Filho.

Na mesma linha de buscar apaziguar os ânimos no Congresso, Dilma orientou o ministro Joaquim Levy (Fazenda) a evitar atritos com o presidente da Câmara.

Levy disse nesta segunda a interlocutores ter "bom relacionamento" com Cunha.

O ministro avalia que há grupos interessados em criar indisposição entre ele e o deputado, afirmando ter o "maior respeito e consideração por Cunha".

Durante negociação para votação da terceirização, Cunha e Levy teriam entrado em atrito. O presidente da Câmara reclamou do tom do ministro, que teria se comportado de forma muito "impositiva" ao defender uma mudança no projeto que garantisse antecipação da cobrança de contribuição previdenciária de empresas do setor de terceirização.

Conforme relato, Cunha teria dito que Levy estava "subestimando nossa inteligência" e questionou se ele se achava "dono da verdade".


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