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Delator defende Petrobras e diz que corrupção se restringiu a 3 pessoas

Pedro Ladeira/Folhapress
O executivo Augusto Mendonça Neto, delator na Operação Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras
O executivo Augusto Mendonça Neto, delator na Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras

O executivo da Toyo Setal Augusto Mendonça Neto, delator na Operação Lava Jato, afirmou nesta quinta-feira (23) à CPI da Petrobras que não houve superfaturamento dos contratos e defendeu a estatal, restringindo a corrupção a três ex-funcionários.

Mendonça Neto também confirmou à CPI o teor de suas delações premiadas à força-tarefa que investiga o escândalo de corrupção na petroleira.

"Estamos assistindo hoje a Petrobras sendo massacrada pela mídia, pela opinião pública, a imagem muito arranhada, parecendo uma empresa de segunda categoria repleta de gente corrupta, quando é exatamente o inverso. Tive participação longa na Petrobras e o único contato que tive de corrupção foi com essas três pessoas que citei [Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ex-diretores, e Pedro Barusco, ex-gerente]", declarou.

Ao dizer isso, ele lembrou o fato de Barusco citar o envolvimento de outras pessoas, mas afirma que não tinha conhecimento disso.

Detalhando declaração já dada em sua delação premiada, Mendonça Neto afirmou que os contratos dos quais pagava propina não eram superfaturados e que os pagamentos de vantagens indevidas saíam da margem de lucro, com o objetivo de que os diretores não atrapalhassem a execução das obras.

Segundo ele, era difícil que a Petrobras errasse na sua estimativa do custo das obras licitadas, por isso não aceitaria preços muito superiores.

"É muito difícil que a Petrobras consiga fazer um erro em sua avaliação de risco que consiga permitir que se tenha um superfaturamento. Quando Paulo Roberto [Costa] diz que o pagamento das comissões saía da margem da empresa, isso é fato. Ninguém tinha a oportunidade de poder aumentar seu preço pra pagar a comissão", afirmou.

O delator confirmou que teve encontros com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto –preso na semana passada–, a pedido do então diretor de Serviços Renato Duque, com o objetivo de acertar doações legais ao partido. Disse ainda que não informou a Vaccari que o estava procurando seguindo ordens de Duque.

"O Duque em algumas oportunidades me pediu que eu fizesse contribuições ao Partido dos Trabalhadores. Na primeira vez eu fui procurar o João Vaccari [Neto] no escritório do PT, dizendo a ele que tinha interesse em fazer contribuição ao partido, [perguntando] como eu deveria fazer, e ele me indicou onde eu deveria contribuir. O Duque me pediu outras vezes, também voltei a falar com ele [Vaccari], fizemos outras contribuições", afirmou.

Ele também confirmou os repasses à Gráfica Atitude a pedido de Vaccari, sem dar novos detalhes.

Apesar de confirmar os encontros com Vaccari, o delator afirmou que o petista nunca o ameaçou em relação aos contratos da Petrobras. Mendonça Neto diz que sequer mencionou ao tesoureiro que o procurou seguindo ordens de Duque. Afirma que Duque também não o ameaçou. "Ele [Duque] nunca verbalizou pra mim, nunca disse 'se você não contribuir, vou te atrapalhar', mas era uma coisa muito visível, muito evidente, a contribuição ali era no sentido de não ser atrapalhado. Nunca pelo lado 'contribua que vou te ajudar'", afirmou Mendonça Neto.

CLUBE

O executivo afirmou que a corrupção ocorreu por uma atuação em conjunto das diretorias de Abastecimento, quando comandada por Costa, e a de Serviços, quando comandada por Duque, e que o cartel de empreiteiras combinava quem ganharia cada licitação.

Segundo ele, quem primeiro o procurou para tratar de propinas foi o ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, que teria lhe indicado o doleiro Alberto Youssef.

Mendonça Neto recuou das declarações de que o clube de empreiteiras entregaria uma lista para os diretores das empresas a serem convidadas para participarem das licitações. Após Barusco ter dito que as empresas eram escolhidas a partir do cadastro da Petrobras, Mendonça Neto afirmou agora não ter mais certeza sobre a existência dessa lista.

"Na minha visão existia contato entre o grupo de empresas e a Petrobras no sentido de que as empresas a serem convidadas eram as do grupo. Hoje Barusco fala que não, que eram as empresas que tinham efetivamente condições de executar os contratos. Mas de qualquer forma existia pelo lado das empresas, vamos dizer, a sensação, o conforto de que as que seriam convidadas seriam aquelas que participavam desse grupo."

Segundo o delator, após a saída de Costa da Petrobras, a atuação do clube na estatal se desfez e não ocorre mais atualmente.

Questionado pelo deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), Mendonça Neto afirmou ter se encontrado com o ex-ministro José Dirceu quando ele ainda comandava a Casa Civil do governo Lula, para tratar do mercado de exploração marítima de petróleo. Disse que o encontrou posteriormente à saída do cargo em eventos sociais, mas que não teve reuniões em privado com ele. Também afirmou nunca ter contratado Dirceu nem o ex-ministro Antônio Palocci como consultores.

LULA E DILMA

Em outro momento, Mendonça Neto disse que teve conversas com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma Rousseff sobre assuntos relacionados à Petrobras e à indústria local, mas sem denunciar o esquema de corrupção. Declarou que conversou com todos os candidatos à Presidência em 2010.

Seu depoimento começou próximo às 10h e teve duração até por volta das 17h30. Ele compareceu acompanhado da advogada Beatriz Catta Preta, que conduziu as negociações da sua delação premiada e de outras delações da Lava Jato.


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