Folha de S. Paulo


Após depoimento, CGU agradeceu e pediu mais ajuda a delator

Um e-mail mostra que a CGU (Controladoria-Geral da União) manteve contato com o ex-diretor da SBM Offshore Jonathan Taylor após receber dele um dossiê e ouvi-lo sobre esquema de corrupção com a Petrobras.

Embora hoje minimize as informações prestadas por ele durante a campanha passada, a CGU agradeceu sua ajuda em mensagem no dia 13 de outubro, dez dias após depoimento prestado a três servidores do órgão.

A CGU solicitou informações sobre transações feitas nos Estados Unidos entre a SBM e o lobista Julio Faerman, apontado como elo da propina com servidores da estatal.

Editoria de Arte/Folhapress

Na mensagem, o servidor Hamilton Cruz, diretor de Acordos e Cooperação Internacional da CGU, agradece Taylor por ter enviado dados financeiros da SBM e diz: "Sobre um assunto diferente, buscarei sua ajuda novamente".

O funcionário do órgão de controle destaca as informações de Taylor sobre a atuação de autoridades dos EUA no caso por causa de transferências da SBM para Faerman em Houston, nos Estados Unidos.

Cruz pede que o executivo britânico envie novamente um arquivo sobre o tema. "Eu vou conversar com as autoridades dos Estados Unidos e então tentar convencê-los a ser envolver caso não tenham decidido fazê-lo", disse o servidor.

Procurada pela Folha, a CGU confirmou o e-mail e disse que estava buscando mais detalhes "para verificar se os EUA também teriam competência para investigar o caso".

"Assim, a CGU poderia tentar o pedido de cooperação com outro país além da Holanda'", afirmou.

Documentos internos da SBM mostram uma comissão de US$ 89.255,96 paga a uma empresa de Julio Faerman por meio de uma conta no HSBC de Nova York no ano de 2009.

O dinheiro, segundo os papéis, faz parte de comissão paga ao filho do lobista, Marcello Faerman, referente a uma fatura de US$ 696.630,00 da Petrobras.

Em entrevista à Folha, Jonathan Taylor acusou a controladoria de esperar o fim da campanha eleitoral para abrir processo contra a SBM, no dia 12 de novembro.

A CGU recebeu dele contratos do lobista brasileiro com a SBM, informações sobre repasses a paraísos fiscais, e-mails reservados, gravações de reuniões da empresa, entre outras coisas.

A controladoria nega protelação política e alega que não usou seu material na investigação aberta em abril por indícios de terem sido obtidos de maneira ilícita e também porque não apontavam transferências de dinheiro da SBM diretamente para servidores da Petrobras.

Os documentos e as investigações das autoridades holandesas, no entanto, indicam que não havia repasse da empresa para funcionários da estatal porque o lobista Julio Faerman era o intermediário da propina. Os documentos entregues pelo delator tratam sobretudo das atividades do lobista, que recebeu pelo menos US$ 139 milhões da SBM.

A CGU admite que as informações de Taylor foram as únicas evidências que a sindicância aberta em abril obteve procedente da Europa. O Ministério Público da Holanda, que investigou o caso, e a SBM não colaboraram.

Na ocasião dos contatos entre o órgão e o executivo, entre agosto e outubro de 2014, a maioria dos documentos, como os contratos do lobista, era inédita e pouco se sabia sobre os bastidores da SBM, que negocia até hoje um acordo de leniência.


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