Folha de S. Paulo


Governo recebeu detalhes sobre lobista

O ex-diretor da SBM Offshore Jonathan Taylor contou à CGU (Controladoria-Geral da União), em depoimento no dia 3 de outubro de 2014, detalhes de como um lobista brasileiro foi usado pela empresa holandesa para obter contratos com a Petrobras.

Em encontro no Reino Unido com três servidores do órgão, Taylor foi questionado sobre auditoria interna, da qual fez parte, que apurou em 2012 a atuação de Julio Faerman como intermediário de propina a servidores da estatal.

O teor do depoimento mostra que o executivo explicou a chegada do brasileiro à SBM, nos anos 90, os sigilosos contratos que tinha para representá-la e disse que o lobista "era figura chave" no esquema no Brasil mesmo não sendo formalmente funcionário da empresa.

Taylor enviou por e-mail, em 27 de agosto, os contratos com Faerman, que mencionam a Petrobras, emails reservados do lobista, e detalhes de pagamento que recebeu nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.

Na ocasião dos contatos com a CGU, entre agosto e outubro de 2014, a maioria dos documentos, como os contratos do lobista, era inédita e pouco se sabia sobre os bastidores da SBM, que negocia até hoje um acordo de colaboração com a CGU.

O executivo falou aos servidores sobre uma gravação, também entregue por ele, em que o ex-diretor Hanny Tagher revela, numa reunião da empresa em 2012, que Faerman recebia 3% de comissão pelos contratos com a Petrobras e repassava 2% à estatal.

O ex-diretor atuou por mais de oito anos para a empresa e é apontado como responsável pelo vazamento de informações sobre o caso publicadas na Wikipedia em 2013.

A CGU admite que as informações dele foram as únicas evidências que a sindicância aberta em abril obteve da Europa. O Ministério Público da Holanda, que investigou o caso, e a SBM não colaboraram.

Taylor relatou ao órgão que foi avisado pelos procuradores holandeses sobre pagamento de propina no Brasil. O delator acusa a CGU de esperar a reeleição de Dilma Roussef para abrir processo contra a SBM. A CGU nega a informação.

A SBM pagou pelo menos US$ 139 milhões a Faerman pelos serviços prestados. "Isso não inclui antes de 2007 (...) Se você for para antes disso, terá mais pagamentos", alertou Taylor.

O ex-funcionário contou que a cúpula da SBM não fazia reunião com a Petrobras sem passar pelo lobista. Segundo ele, não havia sinais de repasses da empresa direto para servidores da estatal.

O executivo mencionou contrato de 2007 com o lobista, também repassado à CGU, com a anotação "2% outside" (no caso, Petrobras, segundo ele) feita por Tagher.

A CGU quis ainda saber qual benefício a SBM teria em troca da propina. "Você tinha um esquema de milhões para a década de 2020, sendo prometido um futuro saudável para as necessidade da empresa", respondeu.

Leandro Colon/Folhapress
Jonathan Taylor, ex-funcionário da SBM Offshore e apontado como principal delator do esquema da Petrobras
Jonathan Taylor, ex-funcionário da SBM Offshore

Endereço da página:

Links no texto: