Folha de S. Paulo


Janot tolheu investigação da PF, diz delegado da Lava Jato

O delegado federal Eduardo Mauat da Silva, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, reforçou a queda de braço entre Polícia Federal e Ministério Público, e acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de "tolher a investigação" da operação em Brasília.

"Houve, por parte do doutor Janot, uma iniciativa de tolher as investigações da Polícia Federal. E nós queremos que ele explique à sociedade o porquê disso", afirmou Mauat nesta sexta (17), durante uma entrevista coletiva sobre a autonomia da PF, em Curitiba.

Nesta semana, uma divergência entre a Polícia Federal e o Ministério Público emperrou as investigações da Lava Jato em Brasília. O STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a tomada de depoimentos em sete inquéritos que investigam políticos e operadores do esquema, a pedido de Janot, que disse querer melhorar a "organização da estratégia".

Mauat, que integra o grupo de delegados que comandam a investigação em Curitiba, disse que o pedido de Janot foi "sui generis", e lançou dúvidas sobre suas intenções.

"[Ele ocupa] um cargo político, foi indicado pelo governo e não poderia interferir numa investigação da PF", afirmou. "São questões que precisam ser explicadas."

Pouco depois, o delegado foi ainda mais direto. Ao ser perguntado se o governo federal estaria trabalhando para minar as investigações, já que há petistas entre os investigados, disse: "Não sei. Vamos esperar os próximos meses. Mas, se quiserem, estão no caminho certo".

CONTINGENCIAMENTO

Segundo o delegado, há cerca de dois meses, policiais federais que trabalham na Lava Jato estão sem receber com regularidade as diárias para pagarem custos com alimentação e estadia. Dos 30 policiais que trabalham na operação, cerca de 60% vieram transferidos, e não têm residência em Curitiba.

"Os policiais estão tirando dinheiro do bolso", afirmou Mauat. "Você pode matar uma operação à míngua se tirar os recursos dela."

As diárias da PF valem aproximadamente R$ 200. Nas estimativas do delegado, os valores a receber somam entre R$ 100 mil e R$ 200 mil.

Mauat ainda afirmou que não há "uma briga" entre Ministério Público e Polícia Federal. Citou o trabalho em Curitiba e disse que o relacionamento entre os órgãos é "muito bom". " Agora, se há alguma atitude polêmica por parte de algum deles, que causa certa estranheza, tanto o Ministério Público quanto a PF são obrigados a explicar."


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