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Procurador cita caso Bancoop e diz que Vaccari desvia recursos há 10 anos

Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, chega ao IML de Curitiba (PR) para exame de corpo de delito
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, chega ao IML de Curitiba (PR) para exame de corpo de delito

O procurador da República Carlos Fernando Lima, um dos coordenadores da força tarefa da Operação Lava Jato, afirmou que o tesoureiro do PT João Vaccari Neto atua em desvios de dinheiro para o PT ou entidades ligadas à legenda partidária desde 2004.

Vaccari foi preso nesta quarta-feira (15) pela Polícia Federal em São Paulo e foi encaminhado para a sede da PF em Curitiba. As doações ao PT estão sob suspeita porque, segundo o Ministério Público Federal, foram uma forma de pagamento da propina que empresas deviam partido para manter contratos com a Petrobras.

Lima disse que além das atuais investigações sobre o esquema de corrupção na estatal há um processo criminal em curso na Justiça de São Paulo que indica ações de Vaccari para desviar recursos da Bancoop, a cooperativa dos bancários de São Paulo, para o PT, no período em que ele presidiu a entidade, de 2005 a 2010.

"Verificamos um comportamento reiterado indicando o desvio de valores para agremiações políticas. Chegamos à conclusão de que esta reiteração era o motivo principal da prisão, para garantia da ordem pública", disse.

"No caso Lava Jato temos a indicação de cinco colaboradores de que ele [Vaccari] era o representante do Partido dos Trabalhadores nos desvios da Petrobras. Verificamos então uma continuidade delitiva que vem de muito tempo."

CRIME

Segundo o despacho que determinou a prisão, Vaccari foi preso porque, como continuava na tesouraria do partido, poderia continuar incorrendo em crimes ou atrapalhar as investigações. "O mundo do crime não pode contaminar o sistema político-partidário", afirmou, no despacho, o juiz Sérgio Moro.

"A manutenção dele [Vaccari] em liberdade ainda oferece um risco especial pois as informações disponíveis na data desta decisão são no sentido de que João Vaccari Neto, mesmo após o oferecimento contra ele de ação penal pelo Ministério Público Federal [...], remanesce no cargo de tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Em tal posição de poder e de influência política, poderá persistir na prática de crimes ou mesmo perturbar as investigações e a instrução da ação penal", afirmou.

O juiz afirmou que o "mero afastamento" dele do cargo que ocupa no partido não seria suficiente para prevenir de todo os riscos, já que existem indícios de ter atuado no esquema criminoso de propinas na Petrobras "mesmo antes de ter a posição oficial de tesoureiro no partido".

"Quem responde por tão graves crimes, que incluem a utilização da posição de tesoureiro de partido político para angariar recursos criminosos e corromper o sistema político, oferece um risco a ordem pública, justificando a [prisão] preventiva", escreveu.

FAMÍLIA

Segundo Lima, a prisão de Vaccari também teve como fundamento a realização de operações que apresentaram indícios de crime fiscal. "A família [de Vaccari] possui uma série de operações que têm características de lavagem de dinheiro. Alguns valores foram depositados em contas sem identificação, e foram feitas operações com empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato."

O negócio com construtora mencionado por Lima foi revelado em reportagem da Folha do último dia 6, que apontou que a Procuradoria investigava uma operação fora do padrão do mercado imobiliário feito entre a construtora OAS e a cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima.

O negócio foi a transferência de um apartamento no Guarujá (SP) de Marice para a OAS pelo valor de R$ 430 mil, cerca de dois anos após a cunhada de Vaccari ter adquirido o imóvel por R$ 200 mil, em 2011. A operação indica um aumento de 115% no valor do apartamento no período, o que é incomum no mercado imobiliário.

Também há um mandado de prisão contra Marice, mas ela não foi localizada. A PF a considera fugitiva.


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