Folha de S. Paulo


André Vargas viajou para encontrar doleiro às custas da Câmara

Preso pela Operação Lava Jato, o ex-deputado federal André Vargas viajou às custas da Câmara do Deputados para São Paulo em datas coincidentes com suas visitas ao escritório do doleiro Alberto Youssef na capital paulista.

Segundo a Polícia Federal, Vargas esteve pelo menos quatro vezes no escritório do doleiro, pivô da Operação Lava Jato, entre junho e dezembro de 2011.

No dia 13 de junho, Vargas voou do Paraná para o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e se encontrou com o doleiro na capital paulista.

De lá, voltou para Brasília com bilhetes de sua cota parlamentar.

A verba é utilizada por deputados para ressarcir despesas com alimentação e deslocamento em agendas oficiais e vinculadas ao mandato. No trecho de ida, o bilhete custou R$ 415, 23. O de volta, R$ 254.

Em 12 de agosto, Vargas usou a cota da Câmara para voltar de São Paulo para Londrina. O bilhete custou R$ 775. Naquele dia, a Polícia Federal registrou nova visita de Vargas ao doleiro.

Há novos registros de voos nos dias 26 de setembro e 8 de dezembro, quando o então deputado foi do Rio de Janeiro e de Brasília, respectivamente, para São Paulo. No dia seguinte, em ambas as datas, ele encontrou-se com Youssef. A passagem de setembro custou R$ 900. A de dezembro, R$ 466,66.

Editoria de arte/Folhapress

Não há registro no site da Câmara a respeito do voo de ida a São Paulo na viagem de 12 de agosto e de volta, em 26 de setembro. O trecho de volta da viagem de 8 de dezembro foi emitido para o dia 10, mas a assessoria da Casa diz que o bilhete não foi usado.

Em 2014, a Folha revelou que o ex-deputado viajou ao Nordeste em um jatinho custeado pelo doleiro, o que expôs a ligação do petista com Youssef.

Vargas foi preso na sexta-feira (10) por causa dos desdobramentos da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras e suspeitas de desvios feitos a partir de contratos de publicidade na Caixa e no Ministério da Saúde.

Segundo a PF, 10% do valor dos contratos mantidos com a Caixa e com o ministério eram desviados para empresas de fachada de Vargas e de seu irmão, Leon Vargas, que também foi detido.

Secretário de Comunicação do PT, Vargas era uns dos dirigentes mais atuantes no partido. Ele foi o primeiro parlamentar sob suspeito de envolvimento nos crimes revelados pela Lava Jato a ser cassado pela Câmara, em dezembro de 2014. Pressionado pelo PT, pediu a desfiliação do partido logo no início do escândalo.

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem, a advogada de Vargas, Nicole Trauczynski, disse que a defesa não teve acesso aos documentos mencionados, ''razão pela qual não tem como se manifestar no presente momento''.

Ela informou que ''eventuais esclarecimentos serão dados oportunamente''.


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