Folha de S. Paulo


Em meio a falas evasivas, Vaccari admite encontros com delatores

Em mais uma sessão marcada por tumulto e bate-bocas, a CPI da Petrobras na Câmara ouviu nesta quinta-feira (9) o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

A fala do petista durou quase oito horas –começou por volta de 10h e terminou às 18h. Ele ter admitido conhecer os principais nomes envolvidos no esquema de corrupção da estatal, mas sem dar detalhes do relacionamento que mantinham.

Vaccari adotou duas frases como padrão para a maioria das perguntas dos congressistas. Uma dizia: "O teor das delações sobre a minha pessoa não é verdade". Na outra ele afirmava que todas as doações recebidas pelo PT eram legais e registradas na Justiça Eleitoral.

Segundo ele, o PT não participou do esquema de corrupção e as delações que citam o partido não podem ser tomadas como verdade.

Delatores da Lava Jato afirmaram que a Diretoria de Serviços da Petrobras intermediava as propinas ao PT por meio de Vaccari. O diretor na época era Renato Duque, que tinha o ex-gerente Pedro Barusco como seu subordinado.

Barusco, que hoje colabora com a Justiça em troca de punições mais brandas, afirmou que parte da propina ficava com ele e outra parte ia para o PT.

Em depoimento à CPI da Petrobras, o ex-gerente disse que tanto ele como Duque se reuniam com Vaccari em hotéis para tratar da propina. Vaccari confirmou que os conhecia e encontrava, mas que nunca tratou das finanças do partido com eles.

Sobre Duque, o tesoureiro disse que o conheceu em um evento social no Rio e que eles depois mantiveram contato. "É um relacionamento amistoso e social. Uma pessoa com quem eu gosto de conversar, discutir política, assuntos diversos", afirmou.

Disse ainda que só conheceu Barusco após a saída dele da Petrobras. "Todas as vezes que encontrei com ele sempre havia mais pessoas".

Questionado sobre como marcavam os encontros ou sobre os detalhes de como se conheceram, ele disse que suas respostas já tinham contemplado as perguntas.

Vaccari confirmou ter estado no escritório do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção, conforme imagens que já haviam sido obtidas pela Polícia Federal.

Após insistentes questionamentos, explicou que Youssef lhe convidou para ir até lá, mas não disse quem havia sido o emissário. "Alberto Youssef mandou um recado para que fosse ao escritório dele. Não marcou data. Lá compareci, ele não estava e fui embora", afirmou o tesoureiro. Segundo ele, essa visita durou quatro minutos.

O tesoureiro ainda confirmou ter ido a empresas pedir doações e disse que é uma prática "usual" ao cargo, mas que as doações foram registradas legalmente e eram feitas por transferência bancária.

Durante o depoimento, Vaccari não foi enfaticamente defendido pelos petistas, que se limitaram a defender a legenda, dizendo que não se podia criminalizar doações legais. Apesar disso, ele afirmou avaliar que tem apoio do Diretório Nacional do PT para permanecer no cargo, apesar dos protestos de alguns integrantes da legenda.

Em relação aos integrantes da oposição, sofreu severas críticas, chegando a ser chamado de "criminoso". A deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO) até sugeriu que ele fosse submetido a um detector de mentiras. A defesa afirmou que, se houver determinação da Justiça, pode participar de acareações.


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