Folha de S. Paulo


Absolvidos no mensalão participam de lançamento de livro de João Paulo

Beto Barata/Folhapress
Os ex-deputados João Paulo Cunha e Professor Luizinho durante o lançamento do livro em Brasília
Os ex-deputados João Paulo Cunha e Professor Luizinho durante o lançamento do livro em Brasília

Com presença de políticos absolvidos no mensalão, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) lançou na noite desta terça-feira (7), em Brasília, o livro, composto de poemas escritos enquanto cumpria pena na penitenciária da Papuda, após ter sido condenado a seis anos e quatro meses de prisão no processo do mensalão.

Entre os petistas que compareceram ao lançamento estavam o ex-deputado Professor Luizinho (SP) e o senador Paulo Rocha (PA), ambos absolvidos no mensalão, e o suplente de deputado federal Emiliano José (PT-BA). Também estiveram presentes o ex-secretário geral da mesa diretora da Câmara, Mozart Viana, e o ex-ministro Gastão Vieira (PMDB).

Paulo Rocha afirmou que João Paulo Cunha "nunca baixou a cabeça". "[O livro] é a força de um homem que, apesar de tentarem tirar sua liberdade, reage dessa forma", disse. Já Luizinho chamou o ex-presidente da Câmara de "irmão" e lembrou que foram colegas como vereadores e deputados estaduais em São Paulo.

João Paulo afirmou que o livro é "um filho de um período duro que passei".

"É mostrar também que da mesma forma em que estive impedido de fazer muitas coisas, eu produzi por outro lado", disse. "Então é mostrar também que o tempo foi produtivo", acrescentou.

Até às 21h, foram vendidos cerca de 350 livros.

João Paulo atualmente cumpre pena em prisão domiciliar e tem a obrigação de estar em casa às 22h. Para lançar o livro, porém, a Justiça estendeu até 0h o horário para ele retornar à sua residência.

O livro foi lançado em um bar de Brasília. Editado pela Topbooks, está sendo vendido a R$ 37.

-

Leia trechos de poemas de João Paulo Cunha:

Ofereci meus ombros.
Como escada ele subiu.
Minhas mãos tocaram a música dos seus sonhos. Ele dançou.
Enxuguei seu rosto do suor do meu trabalho.
Abri a porta para ele passar.
Na hora da porrada a cara era minha.
Fui seu irmão seu amigo e companheiro.
De braços dados caminhamos. Seu sofrimento foi o meu choro.
(...)
Um dia encontrou comigo. Me deu um beijo.
Virou as costas e partiu. Lembrei de Jesus e as 30 moedas.

*

Como sofro nos dias atuais.
Quase não vivo. Me arrasto!
Vivo pelas tabelas da vida jogado de lá pra cá.
Sou quase um morto e meio que vivo.
Carrego uma dor atroz. Eterna!
No peito contorcido,
na língua amarga,
nas costas pesadas e na alma triste e melancólica,
que insiste em resistir,
descubro a fuga para frente.

*

Do ovo
um gosta da clara
o outro gosta da gema.
No amor um se declara
o outro vai ao cinema.


Endereço da página:

Links no texto: