O ex-gerente da Refinaria Abreu e Lima, Glauco Legatti, afirmou à CPI da Petrobras ter relação de "amizade" com o empresário Shinko Nakandakari –que, em delação premiada, admitiu ser operador do pagamento de propinas na estatal–, mas negou ter recebido qualquer vantagem indevida.
Em depoimento nesta terça-feira (31), Glauco relatou ter conhecido Shinko antes de Abreu e Lima, quando cuidava de um setor de meio ambiente e segurança e, na ocasião, convidou o empresário para fazer apresentações sobre o tema, pelo bom desempenho de sua empresa na área. Outros empresários também participaram, afirmou Glauco.
"A partir desse início de conhecimento profissional, eu tive uma amizade com ele que se tornou mais social do que voltada para qualquer coisa de empresa", contou.
Segundo ele, mesmo depois de Shinko não possuir mais a referida empresa, eles continuaram a se encontrar. "Continuamos [nos] encontrando, conversando, sobre temas gerais, mas sempre de uma maneira social".
O ex-gerente, porém, afirma que nunca foi comunicado pela empresa Galvão Engenharia que Shinko a representaria e nem discutiu com ele qualquer assunto de interesse da empresa, ao contrário do que o operador havia relatado em sua delação premiada.
Glauco negou as acusações do pagamento de propina no valor de R$ 400 mil. "Eu não recebi um centavo do senhor Shinko Nakandakari." Ele firmou que entrou com uma petição ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, oferecendo-se a prestar esclarecimentos sobre a acusação.
Questionado sobre por que Shinko o teria envolvido, se ele sustenta não receber propina, Glauco sugeriu que o operador citava seu nome para demonstrar influência junto às empresas.
"Isso é uma suposição minha. Ele continuava recebendo da empresa e precisava falar que ele tinha contatos. Fui usado pra que ele pegasse dinheiro da empresa e embolsasse", declarou.
O depoimento de Glauco durou cerca de sete horas. No encerramento, ele disse que todos da Petrobras estão indignados com as denúncias de corrupção.
SUPERFATURAMENTO DA REFINARIA
Questionado pelo relator Luiz Sérgio (PT-RJ) sobre o aumento no preços da refinaria Abreu e Lima, estimada inicialmente em US$ 2,4 bilhões e concluída ao custo de US$ 18 bilhões, Glauco negou que houvesse superfaturamento.
Segundo ele, o valor inicial de US$ 2,4 bilhões era uma estimativa sem projetos básicos e não pode ser considerado o custo inicial da refinaria. Esse valor seria de US$ 13,3 bilhões, afirma. A ex-presidente da Petrobras Graça Foster deu afirmação semelhante em seu depoimento à CPI.
O ex-gerente diz que parte dessa diferença se deve à variação do dólar, mas frisou que 90% da obra foi paga em reais e que a divulgação de valores em dólar é um padrão da empresa.
"Não tem superfaturamento na obra. Houve um acréscimo de preço, mas são custos reais incorridos na obra. Não tem um centavo pago que não tenha um serviço em contrapartida", declarou.
Glauco foi afastado da gerência de Abreu e Lima, função que exercia desde 2008, no fim do ano passado.
Sobre a atuação de um cartel de empreiteiras na obra, Glauco disse que nunca desconfiaram disso. "Jamais desconfiamos desse tipo de cartelização. Os projetos de grande porte, e as empresas de grande porte, que a maioria está citada na Lava Jato, são as empresas com capacidade para fazer aquele tipo de obra", disse.
O ex-gerente afirmou que a aprovação de aditivos da refinaria não dependia dele e passava pela diretoria da estatal.
PRESIDENTE EM FÉRIAS
A sessão foi presidida pelo vice-presidente da CPI, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), porque o presidente Hugo Motta (PMDB-PB) está em viagem pessoal à Europa, por conta do feriado da Semana Santa.
Procurada, sua assessoria informou que a viagem tinha sido marcada com antecedência.