Folha de S. Paulo


De cada 10 aliados, 3 votam contra Dilma

Com o recorde de rejeição e um desafeto no comando da Câmara, a presidente Dilma Rousseff perdeu, na prática, o controle sobre a Casa. Em 2015, os oposicionistas e a bancada de aliados infiéis já formam maioria nas votações.

Levantamento da Folha nas votações em plenário em fevereiro e março, primeiros meses da gestão Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Casa, mostra que, em média, 3 em cada 10 membros de siglas aliadas votaram contra os interesses de Dilma.

No papel, Dilma mantém uma robusta base: 346 dos 513 deputados. Daria para aprovar alterações na Constituição (são necessários 308 votos). Efetivamente, porém, a base que vota com o governo tem, em média, 246 cadeiras. Considerando o quórum completo, é insuficiente para aprovar qualquer projeto.

O cenário é diverso do início do primeiro mandato, quando Dilma tinha fidelidade 98% de sua base. O resultado agora são a seguidas derrotas. A começar pela própria eleição de Cunha, considerado um aliado incômodo.

Outras derrotas recentes foram a aprovação da obrigação de que o governo libere verbas para obras indicadas por congressistas, a emenda à Constituição (cuja votação ainda não foi concluída) que retira de Dilma o poder de indicar os cinco próximos ministros do Supremo e o projeto que deu prazo de 30 dias para o Planalto colocar em vigor o abatimento das dívidas de Estados e municípios.

Nessa última, perdeu por 389 votos a zero. Isso apesar de, momentos antes, Dilma ter feito um apelo público, dizendo que não tem condições de arcar com os custos.

A sessão evidenciou que a traição ao Planalto cresce nas principais votações, com participação de PT e PC do B, que comandam a tropa de Dilma.

Em 2015, PP, PTB e PMDB têm registrado os maiores percentuais de infidelidade.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reconhece que o "tensionamento da base bateu no teto". Para ele, as dificuldades na economia, o fato de ser o início de um novo governo e a disputa pela presidência da Câmara motivaram o desgaste entre Dilma e aliados.

Para Guimarães, a prioridade na Câmara é estancar a crise entre PT, PMDB e Planalto. "Se não estabilizar a relação do PT com o PMDB, o restante da base não anda".

Além do mal-estar com Cunha, a bancada do PMDB reclama da falta de influência do partido nas decisões do governo, da adoção de medidas que não são debatidas previamente e de ruídos nas negociações fechadas.

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), disse que "há um esforço do governo para reverter o cenário". Mas provocou: "O problema é que o governo é quem transforma as coisas em derrota".

Editoria de arte/Folhapress

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