Folha de S. Paulo


Ex-ministro afirma que prestou serviços e desconhece desvios

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse por meio de sua assessoria que as atividades de sua empresa de consultoria são lícitas e não têm relação com o esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Operação Lava Jato.

A assessoria da empresa de Dirceu classificou como "ilações" os relatos do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, e de um representante da Camargo Corrêa sobre a atuação de Dirceu, obtidos pela Folha.

"A JD Assessoria e Consultoria não se pronuncia sobre supostas ilações que estão fora dos autos do processo, portanto sem qualquer fundamentação legal, e que visam tão somente tentar criminalizar a licitude da prestação de serviços da empresa", disse.

Em manifestação anterior sobre o relatório da Receita Federal que apontou pagamentos feitos a Dirceu por empresas investigadas pela Operação Lava Jato, a assessoria do ex-ministro afirmou que "todos os serviços prestados para as construtoras não têm qualquer relação com os contratos sob investigação na Petrobras". Segundo o relato da assessoria, as empreiteiras representam apenas 10% do total de clientes da consultoria de Dirceu.

"A JD também prestou serviço para empresas de construção civil que não têm relação com a Petrobras. A JD reitera que sempre assessorou seus clientes na prospecção de negócios no exterior, conforme alguns clientes já confirmaram após consulta da imprensa", afirma a nota.

Em nove anos de atividades, a consultoria atendeu cerca 60 clientes de quase 20 setores da economia, diz a nota.

Sobre os pagamentos no valor total de R$ 1,45 milhão feitos à JD pela empresa Jamp, do consultor Milton Pascowitch, apontado como operador do esquema de corrupção na estatal, a assessoria da empresa de Dirceu defendeu a legalidade dos repasses.

"O contrato com a Jamp Engenharia é legal e foi assinado em março de 2011, depois que o executivo Milton Pascowitch, que trabalhou por 17 anos na [empreiteira] Engevix, deixou a companhia e passou a trabalhar como consultor para a construtora", afirmou a assessoria.

"O contrato da JD com a Jamp teve o mesmo propósito: prospectar negócios para a Engevix no exterior", acrescentou a nota de Dirceu.

A assessoria informou que, no período da prestação de serviços pela JD Consultoria, a empresa atuou em estudos para construção de hidrelétrica, projetos de irrigação e linhas ferroviárias no Peru.

REUNIÕES NO EXTERIOR

Ainda de acordo com a nota, durante a vigência do contrato, Dirceu fez diversas reuniões no Brasil com executivos da companhia e viajou a Lima, no Peru, para tratar de interesses da Engevix.

Esse fato foi confirmado por Gerson Almada, executivo da empreiteira preso em Curitiba e que prestou depoimento ao juiz federal Sergio Moro na semana passada.

A Secretaria de Finanças do PT reiterou que todas as doações recebidas foram legais e estão declaradas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "A empresa UTC, quando doou ao PT, cumpriu todos os trâmites legais, depositando o dinheiro na conta do Diretório Nacional a partir de uma TED realizado diretamente da conta da empresa. A doação foi voluntária e realizada após tratativas com o presidente da UTC, Ricardo Pessoa", informou.

"Esclarecemos ainda que o secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto, nunca conversou com o senhor Pessoa sobre os serviços prestados a ele pela consultoria do senhor José Dirceu", conclui a assessoria de imprensa de João Vaccari Neto.

O advogado da UTC, Alberto Zacharias Toron, afirmou que não iria se manifestar sobre o assunto. O advogado da construtora Camargo Corrêa, Celso Vilardi, disse que a contratação dos serviços de consultoria oferecidos pelo ex-ministro não envolveu nenhum tipo de constrangimento para a empreiteira.


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