Folha de S. Paulo


Após crítica de Stedile, Dilma defende ajuste e afirma que crise é passageira

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A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira (20) que ninguém precisa concordar com tudo o que o governo faz, mas voltou a defender a aprovação das medidas de ajuste fiscal tomadas pelo governo.

Ao participar da abertura da colheita de arroz ecológico em um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), em Eldorado do Sul (região metropolitana de Porto Alegre), ela ouviu de João Pedro Stedile, da direção nacional do movimento, críticas ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e às políticas agrária e econômica do governo.

O líder sem-terra discursou por 19 minutos antes da presidente e cobrou "humildade" de seu ministério.

"Nenhum ministro aqui deve se sentir superior ao povo. Porque nós elegemos a presidenta e apenas damos um mandato para ela escolher os ministros. Então, os ministros da senhora têm que ser mais humildes, como disseram na televisão. Ser mais humilde não é para ir pro Céu. É para ouvir o povo", disse Stedile.

"Se o orçamento tem problemas, por que é que o seu Levy não vem discutir conosco? Porque temos propostas. Não basta querer acertar o Orçamento da União apenas cortando o gasto social."

Em entrevista após o evento, Dilma disse que não poderia aceitar todas as críticas.

"O que o Stedile faz é sugestões. Ele tem a concepção dele e eu tenho a minha. A concepção do movimento é uma, de um governo é outra. O governo olha para o país e vê vários setores, não vê só a agricultura familiar. Olhamos o país e vemos também o agronegócio, vemos todas as reivindicações. Acho absolutamente democrático a crítica dele. Agora, entre a crítica ser democrática e a gente aceitar a crítica tem uma pequena distância", declarou Dilma.

Em seu discurso, de 33 minutos, a petista também defendeu medidas que o líder sem-terra criticara pouco antes. Ele havia dito, por exemplo, que os mais ricos é que deveriam arcar com as consequências do ajuste, não os trabalhadores.

Pedro H. Tesch/Brazil Photo Press
A presidente Dilma Rousseff conversa com agricultores durante evento em Eldorado do Sul (RS)
A presidente Dilma Rousseff conversa com agricultores durante evento em Eldorado do Sul (RS)

'DIFICULDADE PASSAGEIRA'

A presidente afirmou que o governo absorveu sozinho os impactos da crise internacional "durante seis sistemáticos anos", de 2009 a 2014. "Agora nós não temos como continuar absorvendo tudo. Não estamos pedindo para ninguém assumir toda a responsabilidade. Não estamos acabando [com políticas sociais], estamos ajustando um pouco.", disse.

Ao afirmar que o ajuste será momentâneo e cobrar união em prol das medidas do governo, Dilma também voltou a criticar setores da oposição que, em suas palavras, apostam contra o país.

"Esse momento de dificuldade é passageiro e conjuntural. Tem gente no Brasil que aposta no quanto pior, melhor. São os chamados pescadores de águas turvas. O que querem não me interessa. O fato é que apostam contra o Brasil, Você não pode apostar contra o seu país", afirmou.

"Nós juntos, aprovando o ajuste, saímos disso no curto prazo. Ajustar é da vida, todo mundo faz isso. Não estamos ajustando porque gostamos de ajustar. Estamos ajustando porque o país tem que continuar crescendo, gerando emprego e fazendo políticas sociais. O ajuste não acaba com a agroindustrialização, não acaba com o Minha Casa, Minha Vida Rural", disse Dilma.

Stedile havia afirmado que os cortes do governo afetaram os programas de habitação popular e que novos contratos não são assinados há seis meses.

Dilma exaltou o diálogo de seu governo com os movimentos sociais e mencionou a cobrança do sem-terra por "humildade".

"Dialogar é necessariamente uma posição de humildade, mas não é de humildade pra ir pro Céu, não. Tem toda razão. Não que a gente seja contra ir pro Céu. Mas é para fazer o seguinte: é quando 'ocê' dialoga, tem de olhar para a pessoa com a qual está dialogando e considerá-la como igual a você. Nem melhor nem pior que você", concluiu Dilma, repetindo o que já havia dito em evento nesta quinta (19), em Goiânia.

REFORMA MINISTERIAL

Após o evento, a presidente Dilma conversou com jornalistas, mas se recusou a falar sobre mudanças em seu ministério. "Não vou falar sobre isso hoje", disse ao ser questionada se iria anunciar algum nome. Dilma também afirmou que os cortes do orçamento da União serão "significativos" e não "serão pequenos", mas não deu maiores detalhes.

'PLANO DIABÓLICO'

Apesar das críticas a aspectos da política do governo, o líder sem-terra defendeu Dilma dos pedidos de impeachment feitos em manifestações por todo o país no último domingo. Afirmou que os protestos foram convocados pela Rede Globo ("o verdadeiro partido ideológico que dirige a direita desse país", em suas palavras) e insuflados por setores da classe média que estariam tramando um "golpe contra os programas sociais".

"A Globo passou o dia inteiro do domingo fazendo campanha pelo golpe. E por que eles querem o golpe? Pra derrubar a Dilma, que é quase uma santa e passou a vida inteira trabalhando pros outros? Vocês acham que a Dilma cometeu algum erro, algum crime? Eles querem dar um golpe nos programas sociais. A classe média não aceita assinar carteira da sua empregada. A classe média não aceita que os negros andem de avião. A classe média não aceita que agora o povo tem um pouquinho mais de direitos do que antes", discursou.

Stedile afirmou que as centrais sindicais, que defenderam o governo Dilma em manifestações no último dia 13, farão novo protesto no próximo dia 7 de abril. E convocou a própria presidente a sair às ruas.

"Companheira Dilma, não se assuste. Deixe o Rossetto [Miguel Rossetto, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pelo diálogo com os movimentos sociais] cuidando do Palácio e venha para as ruas, porque é aqui nas ruas que vamos derrotar a direita e o seu plano diabólico", disse.


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