Folha de S. Paulo


Selfies e exaltação do Sul marcam protesto de Porto Alegre

Os líderes que ocuparam o microfone do carro de som falavam em democracia, mas cartazes com pedidos de intervenção militar não foram raros no protesto contra o governo federal em Porto Alegre, neste domingo (15).

A manifestação se iniciou às 15h no Parcão e ocupou a avenida Goethe, que teve o trânsito interrompido por uma multidão de verde e amarelo. No final da tarde, a Brigada Militar (a PM gaúcha) divulgou que 100 mil pessoas participaram do protesto.

"A gente espera que o clamor do povo seja ouvido em Brasília e que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceite o pedido de impeachment e que os deputados votem a favor", disse Fábio Ostermann, 30, um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre de Porto Alegre.

"Eles têm um plano para acabar com o Brasil e a América Latina. Já fui cara pintada na época do Collor, mas agora é muito pior. O Collor roubava para ele, agora é uma quadrilha", disse Andréa Gomes, 39, fisioterapeuta.
Andréa está grávida e diz estar lutando por um Brasil melhor. Ela estava acompanhada do marido, Felipe Soares, 41.

"Meu protesto é contra a roubalheira, basta ler as manchetes", disse o dentista Jairo Funagalli, 63. Ele diz não ter preferência por nenhum partido. "Meu partido é o Brasil", falou.

Mapa dos protestos de março de 2015; Crédito Rubens Fernando/Editoria de arte/Folhapress

PALAVRAS DE ORDEM

O animador do carro de som lia as mensagens de diversos cartazes, que eram variadas, assim como as reações a cada um deles. "A Petrobras é nossa" foi seguido de vaias, "Fora Dilma, Renan Calheiros e Eduardo Cunha" dividiu opiniões e "Fora PT", foi sempre uma unanimidade no protesto.

Em dois momentos a reportagem viu pessoas que precisaram ser escoltadas pela polícia para não ser agredidas. No primeiro caso, uma mulher foi escoltada por cinco policiais depois de ser apontada como "infiltrada do PT". Renata Silva, 37, professora, segurava um cartaz pedindo intervenção militar. "Eu só mandei beijinho e fiz sinal de paz e amor", disse ela.

Líderes do carro de som provocaram uma série de vaias à mulher. "Tem gente que está aí pago pelo PT", disse um manifestante no microfone.

Ela foi vaiada e agredida verbalmente. Muitos manifestantes a seguiram até outra rua. A polícia precisou afastar diversas pessoas que a abordavam xingando-a de "petista vagabunda!" e "volta para Cuba!".

"Não sou a favor da ditadura", disse a mulher à Folha, apesar de pedir intervenção militar. "Nós já vivemos em uma ditadura", finalizou.

O segundo caso foi de um ciclista que filmava a manifestação. Ele também foi xingado de petista e acompanhado pela polícia até sair da confusão.

EXALTAÇÃO AO SUL

Às 16h, os manifestantes deixaram a avenida Goethe em direção ao parque Farroupilha. Na avenida Osvaldo Aranha uma faixa com os dizeres "O Sul é meu país" era segurada por vários jovens.

"Não é questão de separatismo, não. É uma exaltação da nossa terra, um movimento tradicionalista. O Sul está sendo muito afetado por toda essa crise", disse Fernanda Amorin, 26, advogada.

O hino do Estado também foi cantado pela multidão em diversos momentos. Havia cartazes com a mensagem "Sirvam nossas façanhas de modelo à toda Terra", trecho do hino rio-grandense.

O protesto também foi cenário para selfies, tanto no protesto como dos motoristas presos no trânsito.


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