Folha de S. Paulo


'Sou negro, pobre e estou pedindo a saída da Dilma', diz manifestante

Os atos de protesto contra o governo Dilma deste domingo (15) reuniram bem mais que a "elite branca". Nas diferentes cidades em que as manifestações foram realizadas, celebridades, artistas e socialites caminharam como migrantes, ex-petistas, vendedores ambulantes, militares ou agentes penitenciários.

Nesse caldeirão cultural, as posições políticas e palavras de ordem também variavam, desde os que refutavam a ideia de pedir o impeachment da presidente até os que defendiam a intervenção militar.

"Vamos parar com esse negócio de que só a elite está aqui. Sou negro e pobre e estou pedindo a saída da Dilma", disse Fernando Silva, conhecido como Fernando Holiday, 18, que participou da manifestação na av. Paulista, em São Paulo.

Renata Agostini/Folhapress
Fernando Silva, conhecido como Fernando Holiday, 18 anos
Fernando Silva, conhecido como Fernando Holiday, 18 anos

Ele entrou para o MBL (Movimento Brasil Livre) após postar um vídeo na internet e ser chamado pelos rapazes do movimento. Filho de ex-funcionária pública aposentada e pai "desparecido", mora em Carapicuíba.

Estudou em Escola pública toda a vida e agora ainda decide qual faculdade cursará. Ganhou bolsa na PUC para cursar filosofia, mas não gostou. "Existe um sentimento de que só os ricos querem ela fora. Mas muitos pobres querem. O povo quer", disse à *Folha*.

O pernambucano Antonio Pereira e Silva, 62, foi ao protesto na avenida Paulista de metrô após sair do bairro de Artur Alvim, onde mora na Cohab 1, na zona leste de São Paulo.

Ele refuta a tese de que apenas membros da classe média e da elite estejam insatisfeitos com a presidente Dilma Rousseff (PT). "Eu não ganhei nada para vir aqui. Eu e o país estamos a favor do impeachment", disse.

Corretor de imóveis, Pereira e Silva conta que, no bairro dele, não ouviu panelaço contra o discurso da presidente, no último domingo. "Mas eu aplaudi a reação de protesto em São Paulo", observou.

Para a avenida Paulista, ele levou um banner da campanha do Aécio Neves, o qual, segundo ele, também é contra a corrupção.

Um dos famosos que gravaram vídeos chamando para os protestos, o ator Malvino Salvador ficou em uma área cercada do caminhão de som do grupo Vem Pra Rua.

"Vim para pedir uma agenda pro Brasil, saúde e educação. Não vim pedir impeachment. Dilma foi eleita democraticamente, mas o país tem problemas", afirmou o ator, que, durante a manisfetação, pulava gritando: "Pula aê, pula aê, quem não quer mais o PT."

Mapa dos protestos de março de 2015; Crédito Rubens Fernando/Editoria de arte/Folhapress

Levando uma faixa com a frase "SOS FFAA", a designer gráfica Valésia Barbosa, 59, defendeu a volta do regime militar na ato contra o governo Dilma na tarde deste domingo (15), em Recife.

"Eu vivi na época do governo militar e foi a melhor época da minha vida. Tinha ensino público de qualidade, segurança pública, e eu quero que volte isso, para o meu neto, que vai fazer um ano".

Em Goiânia, o empresário do setor de confecções Iron Cordeiro, 40, aproveitou a manifestação para vender camisetas com dizeres "Fora Dilma e leve o PT junto".

Até as 15h, ele havia vendido 140 das 150 que levou ao evento. Cordeiro diz ser contra a corrupção e contra a atual política econômica, mas afirma não apoiar o impeachment de Dilma.

Conhecida como a "musa da derrota", por ter aparecido em fotos chorando após a derrota de Aécio Neves nas urnas, a estudante Ana Claudia Maffei, de 22 anos, filiada ao PSDB, avalia que a sociedade está insatisfeita com o governo federal, mas que a até o momento não há provas suficientes para se falar em impeachment de Dilma. "Estou certa de que venceremos na próxima eleição e eu não vou chorar de novo", disse.

Gustavo Uribe/Folhapress
Ana Claudia Maffei, que ficou conhecida como a
Ana Claudia Maffei, que ficou conhecida como a "musa da derrota" após ser fotografada chorando quando Aécio Neves perdeu a eleição

Luis Alberto dos Santos, 50, saiu de Limeira (a 151 km de SP) para vender cerveja para os manifestantes na av. Paulista.

Ex-petista, diz que abandonou o partido após a saída de Heloísa Helena. "O governo está ruim, mas quem disse que tirar a presidente vai resolver alguma coisa? Tiraram o Collor, quem veio depois? Itamar e Fernando Henrique. Foi bom?", pergunta.

Ele disse que não espera vender muito nesta tarde. "A concorrência está brava", dizia enquanto tirava latas de cerveja de seu Renault Kangoo.

Em Salvador, o agente penitenciário André Luis, 33, defendia uma "intervenção militar". "Não ditadura, intervenção militar! Impeachment não vai mudar nada, é a mesma corja. É preciso que os militares intervenham e realizem uma nova eleição", disse.

Para o militar Marcelo Campelo, 43, a "intervenção é constitucional". Ele alugou um caminhão de som para a manifestação em Brasília. "A única maneira de impedir o avanço do comunismo é a intervenção militar", disse.

A bacharel em Direito Helena Costa, 58, foi uma das manifestantes que tietaram os policiais do Batalhão de Choque da PM em frente ao Masp, na av. Paulista. "Esse protesto deveria ter acontecido há muito tempo", disse.


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