Folha de S. Paulo


No Recife, multidão de verde e amarelo se divide sobre impeachment

Uma multidão vestida de verde e amarelo percorreu cerca de um quilômetro da orla da praia de Boa Viagem, no Recife, em protesto contra o governo da presidente Dilma Rousseff, na manhã deste domingo (15).

O protesto, que durou das 9h às 12h30, reuniu cerca de 5.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, e mais de 50 mil, de acordo com o grupo Vem Pra Rua, um dos organizadores do protesto.

Entre os manifestantes, havia famílias com crianças de colo e muitos idosos. Ciclistas que passavam pela ciclovia da avenida Boa Viagem também se vestiram com as cores da bandeira do Brasil. Nas varandas dos prédios da orla, alguns moradores penduraram bandeiras em apoio à manifestação.

A advogada Diná Melo, 48, levou o filho Vinicius, 8, e a mãe Socorro Pedrosa, 77, ao protesto. "Ele tem que aprender a democracia desde criança", disse Diná, que afirma estar protestando "contra a corrupção, contra o PT, contra o aparelhamento do governo que é praticamente uma ditadura populista".

Com faixas, cartazes, apitos, vuvuzelas, balões e narizes de palhaço, os participantes protestaram principalmente contra o esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato e pediram o fim do governo Dilma.

Um dos gritos de guerra repetidos pela multidão dizia: "Um dois três, quatro cinco mil, queremos que a Dilma vá pra fora do Brasil", e "Oh, o PT roubou, o PT roubou".

Os manifestantes também levaram um boneco gigante de Olinda vestido de juiz, com uma mangueira, em uma referência ao juiz Sérgio Moro, que atua no caso da Lava Jato.

Em pelo menos duas ocasiões, moradores de prédios da orla de Boa Viagem mostraram bandeiras vermelhas nas varandas e foram vaiados pelos manifestantes, que também gritaram: "A nossa bandeira jamais será vermelha".

A arquiteta e professora Clívia Borba, 38, disse que votou em Dilma, mas que se arrependeu. Ela afirma que foi ao protesto para "deixar claro que não se pode passar por cima dos direito dos trabalhadores".

"Quero que eles corrijam os erros. A atitude de Dilma está sendo completamente diferente do discurso na eleição. Ela está sacrificando o trabalhador. E a corrupção, que ela disse que ia combater, ela está acobertando", disse a professora.

O protesto teve ainda três carros de som, onde manifestantes se revezavam no microfone para protestar contra o governo Dilma, contra o PT, contra o aumento de impostos, da gasolina e no preço da tarifa de ônibus.

Apesar de minoritário, houve quem pedisse uma intervenção militar. A comerciante Giane Assis, 48, levou para o protesto o marido, a filha e uma sobrinha, e segurava um cartaz que dizia: "No ["não" em inglês] comunismo; No socialismo".

"Eles [militares] trabalham em prol do país, eles não fariam pior do que já estão fazendo", disse a filha de Giane, Marília, 17.

Dois manifestantes passaram mal e foram atendidos pelos bombeiros.

Editoria de Arte/Folhapress

DIVISÃO

Os manifestantes, contudo, se dividiam sobre o pedido de impeachment da presidente. A divisão refletiu a divergência dos dois principais movimentos que convocaram o ato na cidade: Estado de Direito, que defende o impedimento de Dilma, e o Vem Pra Rua, que quer a "punição aos culpados pelas vias legais".

"Motivo é o que não falta. A gente sabe que o nome da Dilma foi citado na delação premiada do [doleiro] Alberto Youssef, que ela assinou sem ler a compra da refinaria de Pasadena e que o dinheiro da corrupção foi usado pra financiar a campanha dela", disse o estudante de história Diego Lagedo, 22, membro do grupo Estado de Direito.

"Os nossos advogados dizem que não há elementos suficientes para o impeachment. Mas queremos continuar as investigações da Lava Jato, punição a todos os culpados, doa a quem doer", disse uma integrante do movimento Vem Pra Rua, que não quis ter o nome divulgado.

INTERVENÇÃO MILITAR

À tarde, um segundo ato foi realizado na capital pernambucana. Manifestantes pediram intervenção militar, mas estavam visivelmente em menor número que o protesto do período da manhã.

Segundo a PM, havia cerca de 150 pessoas. Durante o trajeto, eles gritaram "fora comunistas" e chamaram moradores dos prédios na orla de Boa Viagem com gritos de "vem pra rua".

Levando uma faixa com a frase "SOS FFAA", a designer gráfica Valésia Barbosa, 59, defendeu a volta do regime militar. "Eu vivi na época do governo militar e foi a melhor época da minha vida. Tinha ensino público de qualidade, segurança pública, e eu quero que volte isso, para o meu neto, que vai fazer um ano", disse.

O caminho para o Impeachment; Crédito William Mur/Editoria de Arte/Folhapress


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