Folha de S. Paulo


Em Brasília, multidão se reúne no gramado em frente ao Congresso

Cerca de 45 mil pessoas, segundo cálculo da Polícia Militar, tomaram o gramado em frente ao Congresso Nacional no final da manhã e início da tarde deste domingo (15) para protestar contra o governo Dilma Rousseff e o PT.

Os organizadores do protesto afirmaram que houve cerca de 100 mil na Esplanada dos Ministérios, 50 mil a mais do que estimaram, na véspera, poder reunir.

Pelo menos seis grupos se reuniram para o protesto, entre eles MBL (Movimento Brasil Livre), Vem pra Rua, Foro Brasília e Brasil Contra a Corrupção, afirmou Adolfo Sachsida, servidor público de 42 anos e um dos líderes do MBL. No ano passado, ele foi candidato derrotado a deputado distrital pelo DEM, mas disse que não pertence à direção partidária nem recebeu apoio da sigla na organização do evento.

O protesto começou por volta das 9h30. Os manifestantes se concentraram em frente ao Museu Nacional, no início da Esplanada, e depois seguiram em direção ao Congresso. Oito carros de som deram apoio aos participantes.

Um deles, que carregava material de propaganda como bandeiras e cartazes, segundo o motorista foi mobilizado por deputados do PSDB do DF. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), foi ao ato e disse que o apoio foi muito maior do que esperava. "Agora é torcer para a presidente renunciar", afirmou o deputado.

No início da manhã, a PM bloqueou as vias que dão acesso à praça dos Três Poderes, para evitar que os manifestantes chegassem até o Palácio do Planalto e ao prédio do STF (Supremo Tribunal Federal).

Uma barreira de policiais foi montada em frente ao Congresso. Segundo a PM, 2.000 policiais na segurança do protesto, além de 200 veículos de apoio, 700 bombeiros e 42 agentes de trânsito.

Com faixas e cartazes pedindo a saída de Dilma e do PT do governo, a manifestação aconteceu de forma pacífica e ao longo de todo o dia não foi registrada nenhuma ocorrência, segundo a PM. Os manifestantes gritavam "Fora PT" e "Fora Dilma", cantavam o Hino Nacional e diziam que "A nossa bandeira / jamais será vermelha".

Por volta das 11h, houve uma pequena confusão em frente ao Congresso, quando uma pessoa ergueu um cartaz em defesa de Dilma. Manifestantes cercaram o homem, que acabou sendo retirado pelos policiais pela garagem do Senado Federal.

A maioria dos manifestantes usou camisetas pedindo o impeachment de Dilma e a saída do PT. Alguns usaram um adesivo onde se lia "a culpa é das estrelas", em referência ao símbolo petista.

Um grupo grande pedia o fim da corrupção e gritava contra o sistema político e judicial. O Congresso e os partidos políticos também são alvos dos manifestantes. "Quimioterapia contra o câncer do PMDB", dizia uma das faixas que apareceram na Esplanada dos Ministérios.

O clima na Esplanada lembrava o início dos protestos de junho, quando os manifestantes levavam suas próprias faixas. Por volta de 13h, o maior grupo de manifestantes começou a deixar a Esplanada após jogar rosas brancas no espelho d'água do Congresso Nacional, num ato que simbolizava limpeza do Congresso.

Segundo Adolfo Sachsida, do MBL, a manifestação em Brasília levou, pelos números da PM, dez vezes mais pessoas à Esplanada do que a posse da presidente, em janeiro. Segundo ele, o grupo vai entrar com o um pedido de impeachment da presidente nesta semana e novas manifestações já estão sendo planejadas para abril.

LAVA JATO

Um grupo trouxe uma cela estilizada, feita de canos de PVC, com fotos dos políticos que serão investigados por suspeita de participação no esquema de corrupção na Petrobras.

O grupo foi ovacionado quando chegou à praça onde fica o Museu Nacional. A ideia da cela foi do técnico de construção Júlio César Santana, 36. Uma manifestante fantasiada de Dilma foi levada para dentro da cela e algemada num determinado momento da manifestação.

"A cadeia é grande. Se tiver mais corruptos, dá para colocar mais gente", disse Júlio, que apoia o movimento Vem pra Rua.

O padre diocesano Pedro Stepien, 43, da paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Novo Gama (cidade satélite de Brasília), disse ter mobilizado cerca de 80 pessoas, em dois ônibus, para participar da manifestação. Ele integra um grupo contrário à flexibilização da lei que criminaliza o aborto.

Stepien, que é polonês e está no Brasil desde 2002, disse ser "contra a corrupção e contra as injustiças feitas pelo nosso governo".

Editoria de Arte/Folhapress

INTERVENÇÃO

Poucas pessoas que participaram da manifestação em Brasília defenderam medidas radicais, como a intervenção militar.

Nelson Fernando Dauer Júnior, 50, que dirige um estacionamento em Campo Grande (MS), fez um protesto solitário no início da manhã deste domingo. Ele conseguiu chegar à grade do Palácio do Planalto às 7h, antes de a PM fechar o acesso ao local, e colocou uma faixa pedindo "intervenção militar". Segundo ele, que disse ganhar cerca de R$ 2.000 líquidos por mês e ter o curso superior incompleto, as "Forças Armadas têm que dar um basta e começar do zero".

Dauer Júnior, que nasceu em Itajaí (SC), disse que votou em Fernando Collor em 1989 e desde então nunca mais votou. Ele se diz desiludido com os partidos políticos. "PT, PMDB, PP, PSDB são todos corruptos. Ninguém acredita mais."

Ele disse que não foi impedido pelos militares na hora em que colocou a faixa em frente ao Planalto. "Eles vieram falar comigo, perguntaram se eu estava em grupo, eu disse que não, aí eles deixaram eu ficar."

Dauer Júnior disse que veio de avião de Campo Grande, dormiu no aeroporto de Brasília e pegou um ônibus para chegar até a praça dos Três Poderes. Disse que não é filiado a partido politico. Pouco antes das 10h, a faixa de Dauer foi retirada por ordem da PM. Ele também teve que deixar o local.

Marcelo Campelo, 43, que se disse militar, alugou um caminhão de som para defender a intervenção armada durante o protesto. Ele disse ter pago R$ 900 do próprio bolso, por duas horas de caminhão.

"Somos um movimento contra o comunismo. A única maneira de impedir o avanço do comunismo é a intervenção militar", afirmou. Esse grupo reuniu cerca de 300 pessoas quando outros grupos já haviam se retirado do gramado em frente ao Congresso e, ao microfone do caminhão, as pessoas se revezavam para pedir intervenção.

Em outro carro de som, o general da reserva do Exército Paulo Chagas se identificou ao microfone como integrante do Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), um grupo de militares da reserva que faz a defesa do golpe militar de 64, deu "parabéns" à multidão.

O caminho para o Impeachment; Crédito William Mur/Editoria de Arte/Folhapress


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